Internacionalização de EV chineses e tempos difíceis para os produtores europeus

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Graças a políticas públicas bem definidas (incluindo significativos incentivos governamentais), bom planeamento governamental e empresarial na criação de uma cadeia de valor integrada nos setores do armazenamento e da mobilidade elétricas, e à ausência de ambientalismo radical, a China tornou-se o maior mercado na produção (45%) e consumo (60%) de veículos elétricos (EV). Recorde-se que não são apenas marcas chinesas que produzem EV na China; muitas marcas estrangeiras fabricam EV lá, quer para o mercado doméstico chinês, quer para exportação. De acordo com alguns especialistas do setor, a produção na China pode diminuir até 10.000€ o custo de um EV. Em 2022, os preços das baterias elétricas foram 24% menores na China do que nos EUA.

Entretanto, no mercado doméstico chinês de EV, o ritmo de crescimento da procura desacelera (+90% em 2022, +36% em 2023, +22% em 2024) e a concorrência é feroz (com uma guerra de preços que dura há mais de um ano). A internacionalização tornou-se uma vertente essencial para os produtores de EV na China, focada nos principais mercados de consumidores, e está a ser feita seja via exportações, seja através da produção de EV noutros países.

A maioria dos EV exportados da China tem como destino a Europa devido à alta procura na região, ao bom rendimento per capita  europeu, aos elevados preços de EV locais, às baixas tarifas alfandegárias europeias (10% na UE, embora hajam sido recentemente impostos direitos de compensação [provisórios] - BYD: 17,4%, Geely: 20%, SAIC e outras montadoras de BEV não_cooperantes: 38,1%) e aos substanciais subsídios governamentais para EV, independentemente da origem.

A maioria dos investimentos de marcas chinesas em novas montadoras de EV está a ocorrer na Europa, no Sudeste Asiático (ex: na Tailândia, com 6~8 montadoras) e no Brasil, dadas as dimensões destes mercados e a proteção da indústria automóvel local. Com a recente imposição de direitos de compensação pela UE, é provável que mais fabricantes chineses criem unidades de produção na Europa.

Para se perceber a competitividade das marcas chinesas de EV, um recente relatório do Rhodium Group dá o exemplo do modelo Seal U da BYD que é vendido por €21.770 na China e €41.990 na UE. As montadoras chinesas não apenas estão a ganhar rapidamente quotas do mercado europeu de EV (sobretudo nos segmentos com preços mais baixos), como obtêm lucros mais altos na Europa.

No caso da BYD, que também produz baterias elétricas para EV, opera com margens que lhe permitem ter ainda maior elasticidade nos preços. Mesmo com a imposição de direitos de compensação sobre EV provindos da China, adivinham-se tempos difíceis para as produtoras europeias de EV.

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