Histórias que se contam, lugares que se sentem - Cultura e Turismo de mãos dadas
Quando temos ofertas literárias no alojamento turístico e iniciativas inovadoras na gastronomia, como transformar a sobremesa “Romeu e Julieta” em “Simão e Teresa”, de Amor de Perdição, impulsionamos fórmulas que fortalecem as nossas comunidades e projetam o nosso país como um destino único e autêntico
Todos sabemos o quão rica e multifacetada é a cultura portuguesa. Cultura essa que vai muito para além do que nos vem à cabeça quando pensamos nela, como os monumentos ou os museus, eles próprios polos de atração, juntamente com a cultura que exibem no seu interior.
Mas hoje, quero destacar a capacidade única que a cultura tem de se “entrelaçar” com as experiências do quotidiano. Seja naquela refeição que nos transporta para memórias especiais, seja num alojamento que nos envolve em histórias do passado. A cultura revela-se aqui como um elemento vivo, capaz de enriquecer e de dar ainda mais significado à nossa oferta.
E não esqueçamos que a gastronomia, ela própria, faz parte da nossa cultura - desde 2000 que é reconhecida como um bem imaterial integrante do Património Cultural de Portugal, sendo, sem dúvida, uma digna representante da nossa identidade e afirmação do nosso lugar no mundo. O canal Horeca (acrónimo de Hotelaria, Restauração e Cafés) é o pilar do nosso turismo e, quando bem planeado e entrosado com a nossa herança cultural, é capaz de transcender a sua importante função de motor da nossa economia, tornando-se, também, um instrumento de coesão territorial, de preservação do património e de celebração da autenticidade.
No alojamento turístico temos vários estabelecimentos que são verdadeiras janelas para a História, onde, por exemplo, a hospitalidade se junta à cultura literária. Uns apresentam-se com fantásticas bibliotecas e outros são, eles próprios, de inspiração literária, criando ambientes temáticos. Desta forma, promove-se a riqueza cultural, enquanto se proporciona experiências únicas para os amantes de livros, de literatura e de história.
E, na restauração, também não posso deixar de referir um outro exemplo, que recentemente entrelaçou a literatura e a gastronomia: a Livraria Lello lançou um desafio aos restaurantes para que reinventassem a sobremesa “Romeu e Julieta” (uma sobremesa com queijo e marmelada), agora com o nome de “Simão e Teresa”, como forma de homenagear os protagonistas do romance Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco.
Desta forma, e apesar de manter a sua autenticidade, já não é apenas um prato, passando a ser, também, um convite para os clientes visitarem Amor de Perdição, um dos maiores clássicos da Literatura Portuguesa, e o seu autor, Camilo Castelo Branco, nome maior do Romantismo no nosso país.
Quando um prato é reinterpretado com base num clássico literário, estamos a dar novos significados aos ingredientes e a transformar uma refeição numa verdadeira experiência cultural.
Os restaurantes e os hotéis que abraçam este tipo de inovação não estão apenas a diversificar a sua oferta. Estão a criar um produto turístico diferenciado, que atrai viajantes em busca de autenticidade e de histórias únicas. Mais importante ainda: estão a envolver as comunidades locais, valorizando o que é produzido e vivido em Portugal, a inspirar o orgulho nas populações e a preservar as tradições. E já todos sabemos que turismo de qualidade é aquele que promove uma relação simbiótica entre turistas e comunidades visitadas.
Para que Portugal continue a destacar-se no panorama global, é fundamental investir em iniciativas que integrem a cultura na nossa oferta turística. Só assim conseguiremos diferenciar-nos como um destino onde cada prato conta uma história e cada estadia é uma viagem no tempo. Os turistas levam consigo uma parte da nossa identidade, enquanto as comunidades são motivadas a preservar e a inovar com base nas suas raízes.
Acredito que este caminho, quando percorrido de mãos dadas, celebra a nossa Cultura, impulsiona o Turismo e fortalece a alma do nosso país. Afinal, não há nada mais português do que saber receber, partilhar histórias e criar memórias.
Secretária-geral da AHRESP