Hibernação ou negação?
Embora tenha sido escrito com uma intenção diferente, O Longo Inverno Socialista é um texto que nos dá a oportunidade para rever tudo o que foi feito ao longo dos anos de governação socialista da cidade de Lisboa. Podíamos perder tempo a discutir metáforas com estações do ano, mas vamos diretos ao assunto: o que aconteceu, afinal de contas, durante o “longo Inverno Socialista” de que nos fala o presidente da Junta de Freguesia da Estrela?
A lista é vasta, pelo que não vamos ser exaustivos. Mas aconteceu a recuperação da Baixa (ainda se lembram como era antes?), as múltiplas intervenções na zona ribeirinha - do Braço de Prata ao Cais do Sodré, passando pelo Campo das Cebolas e Ribeira das Naus -, aconteceram os corredores verdes, os jardins e as praças devolvidas aos lisboetas - de que a Praça de Espanha é apenas um exemplo. O dito “Inverno Socialista” também operou a transformação da cidade com o plano de acessibilidades, com o maior crescimento de sempre na oferta do transporte público, com toda a rede ciclável, as bicicletas Gira, com a recuperação da Rede de Bibliotecas.
Aconteceu também o planeamento de mais e melhores centros de saúde. De um total de 14, três foram deixados a funcionar em pleno (Areeiro, Alta de Lisboa e São Domingos de Benfica) e seis ficaram em fase final de obra (Marvila, Restelo, Alcântara, Ajuda, Beato, Benfica) - Carlos Moedas deve lembrar-se de os ter inaugurado. O Centro de Saúde dos Sapadores ficou com concurso a decorrer. Mas o mais notável é que, dos quatro em falta - planeados, negociados e deixados com a respetiva cabimentação pelo PS - nenhum foi iniciado pelo Executivo dos Novos Tempos.
Não vamos retomar o debate em torno do passe de mágica que permitiu que Carlos Moedas entregasse chaves de 2000 casas caídas do céu. Já todos compreenderam que mais de metade foram deixadas prontas pelo antecessor. Pela mesma razão, não vamos insistir para que a atual gestão camarária explique por que suspendeu e/ou cancelou mais de 1600 fogos com renda acessível - cada um que tire as suas conclusões. E quanto ao Plano Geral de Drenagem, vamos só recordar que saiu do papel e começou a andar durante o inverno. Só por esse motivo é que o atual presidente pôde benzer a tal máquina especial importada da China: porque alguém, antes dele, a encomendou. Para além da bênção, Carlos Moedas teve ainda a trabalheira de um ajuste direto, por 13 mil euros, para a concessão de uma música e videoclipe a explicar a empreitada às crianças.
Por fim, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) a que Carlos Moedas se agarrou “corajosamente”, com o respaldo total do Governo e do Presidente da República. Depois de um ano sem resposta às questões dos vereadores do PS, Moedas descobriu o projeto de um palco que previa o aproveitamento de contentores. A ideia, simples e com custos controlados, não agradou à Igreja Católica - a quem Moedas nunca se atreveria a bater o pé. Foi esta a razão que obrigou a Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) a fazer projetos alternativos, incluindo aquele que suscitou a indignação geral. Foi apenas por isso que a CML teve de negociar a redução de custos com… a própria CML, já que a SRU é uma empresa municipal. O ex-vereador José Sá Fernandes nunca propôs qualquer obra faraónica, mas a bem da “decência moral”, está ansioso para que a pala do desértico Parque Tejo figure nos guias como monumento a visitar. E, entretanto, felicito Luís Newton por já ter ultrapassado o embaraço de inviabilizar uma proposta do seu próprio presidente para agilizar as obras necessárias para a JMJ.
Sobre o Ténis de Monsanto, já tivemos oportunidade de esclarecer que o PS apoiará qualquer projeto sério que não “venda” Monsanto a preço de saldos. Até finais de julho de 2024 havia um contrato vigente, pelo que dificilmente o espaço poderia ser usado para novos fins. O PS não tem nada contra a iniciativa privada, muito pelo contrário. Só não aceita que o privilégio de poucos se sobreponha ao interesse de todos. Já agora, se o senhor autarca se der ao trabalho de ler as atas das reuniões da CML, verá que os vereadores do PS votaram a favor do Hotel Social na Freguesia de Santa Maria Maior, apesar de o considerarem uma proposta aquém das necessidades.
Luís Newton só não sabe tudo o que acabámos de dizer, se durante o longo inverno tiver hibernado. O que é sempre uma possibilidade.