Há quantos anos eles prometem o mesmo?
Tanto o PS, como o PSD, como a Iniciativa Liberal, como o Chega estão em campanha eleitoral a apresentar medidas para baixar impostos, fazer novas deduções no IRS, dar apoios “à classe média”, “aos mais desfavorecidos”, “desburocratizar”, “privatizar”, umas com mais mérito que outras, outras mais irrealistas que outras, mas todas partindo do mesmo pressuposto: é preciso fazer crescer a economia (leia-se, os lucros das empresas) para, só depois, garantir que o valor dos salários dos trabalhadores sobem a sério.
Há quantos anos estes políticos nos prometem que, com a subida da riqueza do país, a subida do PIB, subirá também significativamente o valor que é pago aos trabalhadores? E há quantos anos PS e PSD não cumprem essa promessa?
Se a riqueza criada num país tivesse uma relação direta com os aumentos salariais, isso já deveria ter acontecido ao longo dos 37 anos da história estatística que é possível comparar na Pordata - mas não, não foi isso que lá encontrei.
O PIB, em 1985, valia um pouco mais de 23 mil 226 milhões de euros. Em 2022 chegou a um valor acima de 242 mil 340 milhões de euros - subiu mais de 943%.
O salário médio no nosso país, no ano de 1985, era de 149,9 euros. Em 2022 foi de 1225,3 euros - apenas mais 717%.
Se o salário médio tivesse subido percentualmente tanto quanto o PIB, teria atingido 1560 euros - ou seja, em 2022 os trabalhadores ficaram a perder 334,7 euros de salário mensal.
Isto quer dizer, portanto, que os rendimentos provenientes de outras fontes subiram muito mais do que os rendimentos vindos do trabalho.
Poderão dizer que a questão é mais complexa, que a riqueza de um país não advém só do que o trabalho produz e que, por exemplo, a produtividade até subiu um pouco menos do que o salário médio.
Sendo isso totalmente verdade, também é verdade que, na propaganda e nos programas eleitorais destes partidos o que se projeta para os próximos anos, mais uma vez, é isto: fazer subir o PIB e/ou a produtividade para, só depois, garantir a melhoria substantiva de salários, em vez das ideias tímidas que avançam nesta área.
Acontece que a anexação, exclusiva ou parcial, da subida salarial à produtividade é uma distorção da realidade, uma vez que para a riqueza geral do país os trabalhadores contribuem não só com a sua produtividade (que, aliás, não depende só deles) mas, também, com o seu consumo e o das suas famílias, com as suas poupanças, com os seus investimentos, etc.
Concluo, portanto, ser factual que, ao contrário do que induzem os programas eleitorais e as promessas do PS, PSD, IL e Chega, o crescimento da economia não equivale, nunca equivaleu, nem equivalerá a um aumento semelhante para os salários dos portugueses.
O exemplo da experiência demonstrada pelas estatísticas que existem de 1985 até agora prova que essa promessa para os próximos anos só pode ser falsa, a não ser que haja uma força qualquer que obrigue a que o aumento da riqueza do país beneficie na proporção correta as pessoas que trabalham por conta de outrem.
Como é que isso se conseguiria?
Por exemplo, revertendo a medida do Código do Trabalho criado em 2002 por Bagão Félix no Governo PSD/CDS desse tempo, de Durão Barroso e Paulo Portas, que na prática permite ao patronato inviabilizar a negociação de novos contratos coletivos de trabalho sempre que os contratos em vigor caducam - uma velha questão que nenhum destes partidos, incluindo o do “esquerdista” Pedro Nuno Santos, querem resolver.
Por outro lado, podia-se propor um aumento geral de salários elevado que servisse de base para a discussão na Concertação Social, ao mesmo tempo que se aplicava essa medida na Função Pública para “empurrar” os privados a fazer o mesmo - propostas desse tipo só existem à esquerda do PS, como a da CDU (sou militante do PCP) que propõe um aumento de 15% de salários, realisticamente pagos, diz o partido, com menos de metade dos lucros gerados nas empresas entre 2019 e 2022, fora os 3 mil milhões de lucros da banca registados em 2022.
Apesar das óbvias diferenças entre PS, PSD, IL e Chega, e de não ter o mesmo efeito para o país votar nuns ou noutros, a verdade é que o paradigma, o padrão económico com que estes partidos analisam a realidade é o mesmo e, por isso, as suas promessas de mudanças substanciais na vida real dos portugueses estão, à partida, limitadas na sua ambição e beneficiam, ainda mais, os mesmos de sempre. É o que dizem as estatísticas.
Jornalista