Glória aos vencedores, honra aos vencidos

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Finalmente acabou a época desportiva, nomeadamente a Primeira Liga de Futebol. Esta quase expressão de alívio dá-se porque anseio por estádios cheios e voltar a "respirar bola". Por outro lado essa possibilidade traz consigo muito mais do que normalmente se equaciona.

Sendo o futebol um dos desportos mais enraizados na cultura portuguesa, parto do principio que é um desejo coletivo que a próxima época regresse com adeptos nos estádios. E em paralelo com as pessoas na casa dos seus clubes assistir-se-á a um retorno à normalidade que vai muito além de um desporto.

Adjacente ao espetáculo do futebol demarca-se o fator económico que movimenta muitos milhões de euros. Por outras palavras, a economia precisa de futebol e muito. Será assim um passo gigante para a normalização da vida quotidiana, sob múltiplas perspetivas. E quando a passada for dada convém não esquecer os escalões não profissionais. Esses e todos os outros que têm sofrido enormemente com a pandemia.

Entretanto, o final da época pede um olhar retrospetivo. Assim, e sem atentar aos resultados desportivos, considerando apenas o usual e apregoado "fair-play", concluo infelizmente que o exemplo não veio de cima. O "fair-play" implica saber vencer e perder. E não há forma de ventilar desportivismo aos jogadores ou adeptos quando o topo da pirâmide padece de uma enorme falta dele.

Costuma dizer-se que o tempo é bom conselheiro. Todavia, durante o período em que os jogos se desenrolaram à porta fechada, sem adeptos, não se testemunhou mais desportivismo. As relações interpessoais entre atletas parecem não ter melhorado e os dirigentes dos maiores clubes nacionais falharam numa possível reflexão acerca dos valores básicos da competição.

Em mais uma época futebolística, o desporto rei ofereceu muitos ingredientes mas pouca visão e distanciamento. Agressões a jornalistas e a colegas, incrivelmente não observadas por quem estava ao lado, omissões e fracas memórias, especialmente em comissões de inquérito (que contrastam com a lembrança daqueles que no momento mais esperado se focam nos "rivais" e não nos seus feitos), enfim, houve de tudo e quase tudo mau.

O futebol gera muitas emoções fortes. Não é suposto ser racional. Contudo, até mesmo a paixão pede e precisa de limites e esses não podem ser ultrapassados. É preciso encontrar a dose certa de equilíbrio para conviver em sociedade, seja no desporto, no amor ou no trabalho.

Com o final desta época e antes do regresso à competição, que será por certo diferente, creio que todos os agentes desportivos deveriam aproveitar para refletir sobre que desporto se pretende para o futuro. Independentemente de tudo o resto, e com todo o desportivismo, Glória aos Vencedores, Honra aos Vencidos.

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