"Giorgia Meloni é a nova rainha da Europa", lia-se, há dias, no londrino The Times. Depois de Merkel e apesar de von der Leyen, tudo levava a crer que o trono europeu era agora da presidente do Conselho de Ministros de Itália, que aliava o populismo ao pragmatismo..O Politico, portal insuspeito de simpatias direitistas, populistas ou nacionalistas, já elegera Giorgia Meloni como a pessoa mais poderosa da Europa, a propósito da presumível escolha de Elon Musk em resposta à pergunta “Who do You call if You want to talk to Europe?”. E escrevia sobre Meloni: “Em menos de uma década, a líder do partido direitista Irmãos de Itália passou de alegada ‘louca ultranacionalista’ a primeira-ministra eleita de Itália, tornando-se a pessoa com quem Bruxelas, e agora Washington, podem negociar.”.A história é exemplar da grande mudança em curso na Itália, na Europa e no mundo. Nascida em 1977, Giorgia entrou aos 15 anos para a Frente da Juventude do então Movimento Social Italiano (MSI). O líder histórico do Movimento, Giorgio Almirante, morrera em 1988 e em 1995 o seu herdeiro, Gianfranco Fini, transformara o MSI na desfascistizada e conservadora Aliança Nacional e entrara no efémero primeiro governo Berlusconi..Depois, em 2001, Berlusconi formava a Coligação Casa da Liberdade e governava até 2006 com a Aliança Nacional e a Liga. Perderia para Prodi, mas ganhava outra vez em 2008, com o Povo da Liberdade. Meloni foi Ministra da Juventude nesse governo..No Verão de 2010, Fini rompeu com o Povo da Liberdade de Berlusconi, mas Meloni manteve-se ao lado do Povo. Quando Giorgia interveio no Congresso de La Destra, em Novembro de 2011, depois da queda de Berlusconi, foi para falar dos “poderes fortes, que agora governam a Europa e não apenas a Itália”, poderes que tinham abatido Silvio Berlusconi … E acrescentava que não tinha andado 20 anos na política para ir atrás de “um banqueiro escolhido pelos mercados”. O banqueiro era Mario Monti, o tecnocrata e eurocrata sucessor de Berlusconi..Um ano depois, em Dezembro de 2012, Meloni, Guido Crosetto e Ignazio La Russa fundam a associação Fratelli d’Italia Centrodestra Nazionale, com sede bem perto da Piazza del Popolo. Crosetto vinha do Democrazia Cristiana e da Forza Italia e La Russa, do MSI. Leitora de Tolkien e de Jünger, orgulhosa do seu velho bairro popular romano, Giorgia também estivera na juventude militante do MSI..Mas os ventos sopravam favoráveis: logo em 24 de Fevereiro de 2013, nas eleições, os Fratelli elegiam 9 deputados, juntando-se em coligação com a Lega Nord e o Povo da Liberdade. Depois o partido foi crescendo, registando adesões e marcando um terreno de direita nacional soberanista e com ideias. Em 2016, Meloni foi candidata a presidente da Câmara de Roma por uma coligação de direita e teve 20,7%..Nas eleições de 24 de Março de 2018 os Fratelli tinham tido 4,3% dos votos. Depois foi a grande escalada e em 2024 já tinham perto dos 30%..O grande segredo do sucesso dos Fratelli deve-se muito a Meloni que, sem trair os valores defendidos – Deus, Pátria, Família, Liberdade –, soube adaptar a fórmula ao tempo e ao modo dos italianos, fartos da Esquerda, do “antifascismo” profissional e do wokismo das elites.