Fazedores

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Em Portugal, o emprego jovem é de baixa qualidade e o desemprego afeta, sobretudo, os mais jovens o que se reflete numa taxa de desemprego das mais altas entre os países europeus. São factos. Em Portugal, queixamo-nos da elevada emigração de jovens qualificados. A queixa é um facto; o peso da emigração jovem, porém, não difere muito de outros países europeus. Os patrões queixam-se de falta de mão-de-obra (mais ou menos qualificada, consoante os casos). Os sindicatos lamentam o aumento dos despedimentos. A taxa de desemprego agregada mantém-se alheia a polémicas.

Não é preciso ter o coeficiente de inteligência de Trump para achar que isto é capaz de estar tudo ligado. Se aquilo a que podem aspirar é um emprego precário e mal remunerado, qual é a surpresa que os jovens “se manifestem com os pés”? Em rigor, talvez seja mais estranho que ainda haja uma percentagem tão elevada que não o faz. Entre os que ficam, há os que não trabalham, nem estudam e não se conseguem libertar de um círculo vicioso, em que não há nenhum elevador social que funcione. Uma falha de Estado e de mercado. Uma falha da sociedade. Difícil, mas não impossível, de superar. A não ser que se persista no erro de políticas bem-intencionadas que, por ideologia, se espera/acredita que um dia funcionarão, sem tirar lições sobre a falta de resultados. Pior só quando os seus ideólogos se arrogam o direito de padronizar o erro, impondo a terceiros o modelo falho.

É lugar-comum dizer que a política é demasiado importante para ser deixada apenas aos políticos. Diz-se! Já na prática… Merecem, por isso, encómios, divulgação e apoio os projetos, fora da órbita estatal, empenhados em criar condições que facilitem a inserção, no mercado de trabalho, de jovens em situações socioeconómicas, pessoais e/ou familiares, difíceis. Com história e modelos distintos, a Obra da Rua/Casa do Gaiato e a TUMO são dois bons exemplos. Iniciativas que demonstram ser possível fazer diferente e ter sucesso, que o Estado devia ver como exemplos, parceiros e não rivais.

Alberto Castro é economista e professor universitário

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