Os acontecimentos da última semana projetaram-nos para os problemas raciais e criminais noutros países da Europa que lidam, paralelamente, com questões de imigração. Como um rastilho, os assuntos ligaram-se, para alguns políticos, contrapondo aos que acham que a PSP não deveria existir. Visões extremistas num Portugal outrora ameno, pacato e equilibrado..Deixou de o ser, a começar pelos políticos que tentam vampiricamente angariar votos. Alimentam ódios - a instituições ou a pessoas..Esse incitamento por parte do Chega e do Bloco de Esquerda contribuiu também para a avalancha de, não desacatos, mas terrorismo. De repente, um morto se tornou santo e uma das muitas vítimas nem é praticamente mencionada. É preciso o Tiago morrer para ter as honras do Odair? Odair, que tem direito a sobrenome, mas o Tiago não..Dizia-se em alguma imprensa que o Tiago e os passageiros esfaqueados eram “os invisíveis”; julgo que são mais “os negligenciados”. O que é muito pior. Porque sabe-se que existem, mas são incómodos. Porque comprovam a necessidade de uma autoridade. Porque não deixam apenas um dos lados ter uma vítima e uma consequente vitimização do discurso..Enquanto fui deputada municipal em Lisboa, ao olhar para o mapa da capital, comentei com colegas que, se as periferias com bairros problemáticos tivessem a composição de gangues, como existe noutras cidades complicadas, e se concertassem, a cidade de Lisboa ficaria completamente refém. Nos últimos dias, tive receio de se ter chegado a esse ponto..Há muito por fazer nesses bairros. Muito trabalho social, mas também incutir valores, como respeito, consideração pelo país e pela ideia de património coletivo e o que é, verdadeiramente, ser cidadão..Fala-se de racismo por parte do polícia, já sentenciando antes mesmo de o inquérito ser finalizado. E o que dizer dos que esfaquearam, atiraram cocktails molotov, incendiaram autocarros, espalharam o terror entre os seus colegas de bairro, que nada tinham com isso? Por qual razão, tão rapidamente, se condena um agente de autoridade e se perdoa quem comete crimes? Crimes que poderão - esperemos que não, mas - desembocar em homicídio? E o que fica como eco do Parlamento é que se mate os criminosos e que a polícia é toda racista. É assim que resolvem os assuntos na Assembleia da República?.Esse discurso que, de um lado, apela à matança e, de outro, defende um racismo endémico português, pode ser proferido por alguns com os ânimos inflamados. Mas não pode ser vociferado por quem tem responsabilidades. Há uma petição com mais de 100 mil assinaturas contra deputados do Chega. Mas relembro que Mariana Mortágua também gritou na rua, pedindo a morte de um presidente de um país amigo, no caso, Bolsonaro. Como se vê, os extremos tocam-se. Qual é a fronteira?