EUA 'versus' China
Não se afigura correcto considerar os EUA de Trump isolacionista, mas antes um país com uma postura não-cooperativa (de alguma forma para-coerciva), em que, na sua política externa, existe dominância do bilateralismo e não de uma concepção multilateralista da economia internacional.
Na política macroeconómica, Trump oscila entre o neo-liberalismo dos “supply siders” na área fiscal e o proteccionismo “mercantilista” e “colbertista” na área comercial.
Sendo favorável à redução de impostos (que terá efeitos indutores positivos na procura e não só no investimento) e ao aumento das tarifas aplicáveis às importações, deveria saber que uma e a outra dessas medidas contribuem para incrementar as pressões inflacionistas na economia americana, quando ele assumiu o compromisso de combater a inflação.
Os EUA têm crescido bastante mais do que a UE e, nos próximos anos, deverão continuar a destacar-se em relação à Europa nas áreas da IA-Inteligência Artificial, na valorização do mercado de capitais e em termos de stock de capital.
Mas, é um erro atribuir o diferencial entre os EUA e a UE no atinente ao PIB per capita essencialmente ao agravamento dos níveis de desigualdade existentes em termos de produtividade hora de trabalho.
Krugman e Stiglitz já provaram que o sobredito diferencial resulta, em larga medida, do facto de o peso relativo da população activa empregada na população total ser bastante maior nos EUA do que na UE, havendo, ainda, a considerar que o horário médio de trabalho semanal se apresenta, também superior nos EUA do que nos países europeus.
Se considerarmos o PIB por hora de trabalho nos EUA e na França ou na Alemanha, o diferencial não seria muito superior a 3-4%, sendo certo que em alguns países nórdicos seria até superior ao americano.
Em qualquer caso, os EUA apresentam um empresariado dinâmico, investem muito em inovação, têm das melhores universidades do Mundo, dispõem de uma grande capacidade de promover o crescimento endógeno (com um consumo interno que representa cerca de 70% do PIB), contam com o shale oil e o shale gas para promoverem uma maior capacidade negocial no concerto internacional e serão sempre (mesmo com lideranças irresponsáveis como a actual) um grande país.
Por outro lado, a China tem vindo a conhecer um grande desenvolvimento das empresas tecnológicas, tendo, todavia, conhecido muitos problemas no sector da habitação, os quais poderão vir a afectar o sector financeiro chinês.
Existe, por via indirecta, um grande endividamento da construção e da promoção imobiliária em relação ao Estado, o que poderá induzir uma tendência altista na dívida pública chinesa, uma vez que o Estado tem vindo a absorver a dívida pública anterior acrescida de encargos financeiros recorrendo à emissão de nova dívida.
Os salários reais nos sectores mais avançados da economia têm vindo a conhecer, nos últimos 15 anos, acréscimos de 8-9% ao ano, contribuindo para reduzir as vantagens competitivas chinesas pelo lado dos custos, numa perspectiva de longo prazo.
Simultaneamente, a China depende, ainda, em termos de investimento alógeno, dos EUA e do Japão, verificando-se, também, que as reservas líquidas cambiais chinesas continuam a estar, essencialmente, expressas em dólares e em euros.
Mais, se considerarmos a riqueza das economias segundo as suas riquezas líquidas (i.e., de acordo com o diferencial do valor dos activos deduzidos dos passivos, em 2022 e segundo o critério do Crédit Suisse (que viria a ser adoptado pela Union des Banques Suisses), teríamos em primeiro lugar os EUA, com 98.154.000 milhões de US dólares, em segundo lugar, a UE, com 85.402.000 milhões de US dólares e, em terceiro lugar, a China, com 52.874.000 milhões de dólares.
E, em termos de Sistema Financeiro Internacional, o dólar representa cerca de 40% das reservas líquidas cambiais mundiais, o euro cerca de 20% e se adicionarmos a libra esterlina, o iéne e o franco suíço estaríamos entre os 70 e os 75% das sobreditas reservas mundiais, enquanto que o yuan não chegaria aos 4%.
Enfim, existe uma grande distância a percorrer entre a China e os EUA.
Apesar de a nova Administração Trump tudo estar a fazer para a encurtar, optando por políticas que só irão prejudicar os próprios EUA e os seus aliados Ocidentais.
É o drama do “tropismo para o erro”.
Nem mais, nem menos…
Economista e professor universitário.
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico