Estados Unidos versus União Europeia. É preciso fazer um desenho?
Nos últimos tempos tenho ouvido, repetidas vezes, a ideia de que a União Europeia não quer acabar com a guerra na Ucrânia. Pois bem, se assim fosse quais seriam as razões para esta estúpida atitude? Alguém consegue avançar com justificações lógicas para uma postura de guerra por parte da Europa a 27?
Será que a União Europeia tem uma indústria de armamento suficientemente forte para responder, num prazo muito rápido, às necessidades de aviões, tanques e armas automáticas que uma guerra necessita com continuidade? A produção de armas é um core business, uma indústria de ponta na Europa? Acho que não! Isso está mais do lado dos Estados Unidos, certo?
Acham mesmo que nos países da União Europeia há cidadãos e jovens com vontade ir para a guerra, ainda que essa guerra, hoje, seja sobretudo tecnológica? Alguém pensa que a juventude da Europa têm na cabeça a ideia de entrar num conflito armado, comprometendo o estilo de vida livre e criativo que foram construindo ao longo das últimas décadas? Trocariam uma jola fresquinha num sábado à noite pelas noites gélidas nas trincheiras? Alguém imagina uma coisa assim?
Finalmente acreditam que a União Europeia tem, atualmente, uma situação financeira desafogada que lhe possibilite enfrentar os enormíssimos custos de uma guerra? Como seria isso possível num contexto em que os dois principais países motores da economia europeia, a França e a Alemanha, estão com problemas políticos e financeiros? A Europa quer o reforço da sua defesa para evitar a guerra. Nada mais!
Portanto, esta abstrusa ideia de que a União Europeia quer a guerra tem origem na máquina de informação russa que na velha técnica de que repetindo, muitas vezes, uma mentira ela acaba a parecer verdade. E um dos principais paladinos desta tese é, nem mais nem menos, Lavrov, responsável pelas relações externas russas que, recentemente, na Arábia Saudita resolveu afastar a União Europeia das negociações de paz na Ucrânia dizendo que os europeus “ na realidade querem é continuar a guerra, então para quê convidá-los?”
Mas, entretanto, a União Europeia parece cega ao facto de que Trump já decidiu que, daqui para a frente, cada um vai pedalar na sua bicicleta. As negociatas da guerra estão aí, mas o bolo é para ser dividido, apenas, pelos grandes. No estilo do toma lá dá cá! A Rússia ganha expressão estratégica na Ucrânia e, por via disso, no Velho Continente abocanhando o Donbass, a parte mais valiosa da Ucrânia, talvez em troca de um fechar de olhos de Putin na extração de petróleo pelos americanos no Ártico.
Ou, quem sabe, Washington faz vista grossa aos desejos imperialistas de Putin na Geórgia ou nos Bálticos, enquanto o presidente/ empresário Trump vai pondo a pata na Gronelândia com Putin a olhar para o lado. E tudo isto, é claro, nas costas da União Europeia.
Mas quando é que a União Europeia abre os olhos, se é que os tem? No atual contexto com a falta de qualidade dos políticos que por lá se arrastam a coisa torna-se difícil. Dos camaleões do Conselho da Europa aos hesitantes da Comissão Europeia, venha o diabo escolha.
Como entender a lógica das últimas reuniões a conta-gotas convocadas à pressa por Macron sem uma agenda clara, e sem decisões fortes face à gravidade da situação mundial que atravessamos? A União Europeia ainda não entendeu que o Mundo está entregue a dois facínoras, um com cifrões e torres altas nos olhos e o outro, também, com cifrões nos olhos, mas com as mãos manchadas de sangue, de Novichock e com uma atração fatal por janelas altas! E a União Europeia acha que é com reuniões marcadas no dia anterior que consegue alguma coisa.
Bom, caros leitores, querem alguma coisa que vos dê alguma esperança neste desafogo? Então olhem, com atenção, para a posição que o Reino Unido e a Suécia tomaram na Cimeira de Paris que não hesitaram em admitir a possibilidade de enviar tropas para a Ucrânia, uma posição de força que é a única linguagem que aquela malta lá de Moscovo percebe.
Outra luz ao fundo do túnel neste contexto mundial complicado pode ser a provável vitória nas eleições na Alemanha de Friedrich Merz, líder dos conservadores da CDU. Parece ser alguém, politicamente, capaz para substituir o frouxo Scholz e dar um novo fôlego à desorientada União Europeia. E, já agora, talvez ele possa ajudar a fazer o tal desenho que está a faltar aos burocratas de Bruxelas para perceberem o sarilho em que estão metidos.
Jornalista