Emoções
- “Tenho medo de que me destruam.”
- “Por que razão deveria falar do que sinto? Prefiro andar para a frente e não pensar muito nessas coisas.”
- “Falar sobre o que sinto? E depois? Vejo isso como mergulhar num pântano do qual não sei sair.”
- “Sinto-me culpado por sentir tanta raiva”
É muito difícil entrar no mundo das emoções. As frases acima expressam exemplos clássicos do que é sistematicamente repetido. Por jovens, por adultos, por velhos, por homens e mulheres. Pouco aceites culturalmente, as emoções são vistas como algo que confunde o nosso lado racional, os nossos pensamentos, e por isso, não raras vezes são entendidas como obstáculos e empecilhos. Pior, são razão de as pessoas se sentirem vulneráveis, indefesas e muitas envergonhadas. Sim, a vergonha surge muitas vezes por sentirmos mais de perto as nossas emoções, ou por nos sentirmos expostos aos outros, por estes terem percebido o que sentimos. Sentimos emoções sobre outras emoções. Sinto vergonha se alguém percebe que estou com medo. Quando expresso zanga, mas na realidade estou com medo. As emoções entram no calão social, também não raras vezes, como sendo conotadas como negativas ou positivas. É negativo dizer-se que sente raiva, é muito positivo experienciar alegria. É feio falar de nojo, é bonito expressar afeto. As crianças são pouco estimuladas, ainda hoje e apesar das enormes transformações ocorridas por gerações de pais, a elaborar e expressar o que sentem. Mesmo os pais de hoje, com lágrimas nos olhos e a sorrir ao mesmo tempo dizem: “isto é o que eu costumo dizer ao meu filho... para expressar o lado triste dele, que não tem mal, e cá estou eu a dar conta que também eu tenho escondido a minha tristeza de mim próprio”. O senso comum denigre o lado emocional, favorecendo o lado racional.
No entanto, a experiência clínica e a investigação em psicologia, biologia e em neurociências, dizem-no o oposto. E o que é o oposto?
Que as emoções são uma base essencial para nos compreendermos e são um sistema de sobrevivência e de indicações de como devo agir e comportar-me. As emoções estão muito mais programadas para nos dar indicações sobre o que é bom ou mau para nós, enquanto o pensamento está muito mais focado no que é certo ou errado para nós. As emoções estão intrinsecamente ligadas às nossas necessidades psicológicas e biológicas. Mais do que emoções negativas ou positivas, existem sim, emoções e sentimentos que me ajudam ou impedem de me adaptar aos outros e ao mundo. A tristeza é essencial na elaboração de um luto. Não é por isso negativa. O nojo pode ser uma emoção positiva se estiver numa situação em que sinto a minha intimidade transgredida. A expressão de uma dor emocional intensa pela perda de um parceiro é uma emoção que ajuda a adaptar, uma vez que está de facto ligada à situação experienciada.
As emoções são muitas vezes impenetráveis à razão. O pensamento não modifica o que sinto. As emoções têm, por isso, uma outra valiosa capacidade: transformam outras emoções. Não se trata de substituir, mas de adicionar, complementar. Assim, posso ligar a raiva à vergonha que sentia e poder ter um outro sentimento de vergonha. O medo pode ser transformado por tristeza e pode então experienciar algum alívio, calma. Estas transformações não se realizam por passos mágicos, mas processos experienciais. Por vezes difíceis, uma vez que implica um envolvimento real com o que se sente. Mas essa conexão com o nosso mundo emocional, não nos deixa mais vulneráveis no fim. Permite-nos compreender melhor o que estamos a viver, porque agimos de certas formas, e até nos ajuda a olhar para nós com outra compreensão e aceitação. É comum ficarmos zangados connosco quando parece que já não nos reconhecemos. E essa desconexão connosco próprios é mais bem compreendida quando nos permitimos explorar, verbalizar e sentir o nosso lado emocional.