Em busca do conhecimento
“A melhoria da nossa compreensão serve dois propósitos: um primeiro, o nosso aumento de conhecimento; em segundo lugar, permite-nos transmitir esse conhecimento a outros”. Quem o afirmou foi John Locke. Já Claude Levy Strauss dizia que tudo aquilo que se apreende, transforma e transmite é cultura – numa perspetiva antropológica.
A introdução acima, advinda de dois grandes pensadores, um nascido no século XVII, outro no séc. XX, é o mote para a abordagem ao “Qwen 2.5”. O modelo de linguagem surge na semana passada com o ano novo chinês, ultrapassando a todos os níveis o seu principal rival. O lançamento do “Deepseek” provocou uma onda de choque, tecnológica e financeira, sentida um pouco por todo o mundo.
Estas novas fontes de IA (Inteligência Artificial) ousaram deixar de seguir para liderar. Fazem muito mais com muito menos, num momento em que o contexto geopolítico não parece ser nada favorável. Contextualizando, neste caso, as responsáveis são duas empresas chinesas que atuam na área da IA generativa com código aberto (abertas ao uso generalizado, seja através do domínio oficial ou download de uma app).
Os americanos há muito que lideram o processo de inovação tecnológico. Trump ainda há pouco voltou a frisar esse domínio, sendo que as suas afirmações foram algo surpreendentes. Quando o Deepseek foi lançado, perante a perda de centenas de milhões de dólares, Trump considerou que a única solução será trabalhar mais e voltar a demonstrar a superioridade americana.
Ora, dias mais tarde, chegou um novo abalo com o Qwen 2.5, que superou os resultados já anteriormente alcançados. Afinal, o que está em causa? O que mudou ou pode mudar?
Maioritariamente, trata-se de conseguir objetivos semelhantes (ou mesmo melhores) alocando recursos infimamente inferiores. As empresas chinesas provaram que não é necessário investir biliões de dólares para alcançar ou até superar os resultados em matéria de IA generativa.
Nos primórdios dos tempos, o surgimento do livro agitou a sociedade. Nessa época, temeu-se que a ausência de memória sobre o conhecimento colocasse em risco o próprio saber. Mais tarde, com a máquina de escrever, novos receios tiveram lugar: o medo era perder a caligrafia. Já com a calculadora, os medos estiveram relacionados com a habilidade futura para fazer contas.
Os avanços de conhecimento são, no fundo, saltos de fé em busca de mais e melhor erudição. A história diz-nos que o confronto bruto com a inovação sempre foi merecedor de cautela e apreensão. Contudo, nesta busca incessante pelo conhecimento, não deve ser olvidado o saber já estruturado e enraizado e aquilo que se faz com ele. Como dizia Locke, há que o transmitir.