Em 2025, a vitória pode ser de Lisboa e dos lisboetas
Imagine que uma só medida é capaz de reduzir o uso diário do automóvel, descongestionar as estradas, diminuir a poluição e ainda poupar-lhe dinheiro. Imagine que, em vez de desesperar de cada vez que precisa de se deslocar, ganha tempo e qualidade de vida. Os lisboetas sabem do que falo: no ano passado perderam, em média, 60 horas no trânsito, um aumento de 16% em relação a 2023, e de 32% em comparação com 2022. A não ser que se crie uma alternativa, quem vive ou trabalha em Lisboa arrisca envelhecer atrás do volante.
A candidata do PS à Câmara de Lisboa quer tornar gratuitos os transportes públicos para todos os residentes no concelho. Alexandra Leitão aposta numa mobilidade sustentável, mas também no alívio dos orçamentos familiares, onde o custo dos transportes é já o terceiro maior encargo (e pesa quase tanto como a alimentação).
A primeira capital europeia a implementar a gratuitidade nos transportes públicos foi Tallinn, na Estónia, que conseguiu aumentar os passageiros da sua rede de transportes, melhorar a qualidade do ar e até atrair mais residentes para a cidade (arrecadando mais impostos). O Luxemburgo seguiu-lhe o exemplo, tornando-se o primeiro país com transportes gratuitos para todos, até mesmo para turistas. Em janeiro deste ano, Belgrado, a capital da Sérvia com 1,7 milhões de habitantes, tornou-se a maior metrópole europeia a aplicar a tarifa zero. Lisboa poderá ser a próxima, se Alexandra Leitão ganhar as autárquicas.
Os detratores da gratuitidade dirão que a medida desincentiva investimento, que só é eficaz quando combinada com políticas penalizadoras do uso de carro, ou que o preço não é o fator decisivo quando se trata de escolher o meio de transporte.
Mas em 2019, quando o Governo do PS operou a simplificação dos tarifários e reduziu o custo dos bilhetes, o preço foi um fator determinante para se baterem recordes nas bilheteiras. Na Área Metropolitana de Lisboa (AML), onde um passe mensal podia custar 120 euros, foram criadas duas novas modalidades: uma no valor de 30 euros, para uso municipal; outra, por mais 10 euros, para circulação nos 18 municípios da AML. E nunca se venderam tantos passes.
Sabemos, no entanto, que para trocar o carro pelo autocarro não basta deixar de cobrar bilhete. Vai ser preciso operar mudanças nas empresas de transportes, que terão de oferecer um serviço com pontualidade e fiabilidade, garantir uma frota confortável e sustentável, reforçar a oferta e aumentar a cobertura.
Vai ser preciso também que a câmara volte a investir em corredores Bus e na fiscalização do estacionamento abusivo, que recupere e amplie a rede de ciclovias que a gestão de Moedas interrompeu, que atualize as normas para as Zonas de Emissões Reduzidas (ZER) - que Moedas despreza e nem sequer fiscaliza - e que inicie o debate sobre que ruas devem ser interditas a carros.
A gratuitidade será, por isso, o mote para uma mudança generalizada nos serviços e nos comportamentos. A Lisboa já basta a dor de cabeça e a poluição de um aeroporto no interior da cidade. Naquilo que podemos mudar já, temos obrigação de o fazer. Se escolher os transportes públicos pode reduzir até 30% as emissões de CO2 por pessoa, não sei de que estamos à espera. Lisboa e os lisboetas têm tudo a ganhar com esta proposta.
Presidente da Junta de Freguesia de Alcântara