Eleger um vereador liberal em Lisboa

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E lá vamos nós outra vez. A cada eleição a tática costumeira do apelo ao "voto útil", que não é mais que uma arma, lícita mas deturpadora, de quem se pretende perpetuar ou alcandorar no poder.

É a partir do pluralismo, do debate permanente entre distintas visões, que as sociedades evoluem. É no pluralismo que se evitam absolutismos e "donos disto tudo".

Naturalmente que em sistemas cuja liderança emana de assembleias representativas, como acontece no nosso sistema parlamentar, é mais fácil tirar proveitos do pluralismo, evitando tentações unanimistas. O nosso sistema autárquico, no que diz respeito aos executivos camarários aproxima-se mais da vertente winner takes it all, pois o presidente é sempre o primeiro da lista mais votada. Mas terá de constituir a sua equipa de vereadores com respeito pela aritmética eleitoral.

É também por isto que nas autárquicas o pluralismo ganha muito maior importância como forma de travar tentações absolutistas do presidente da câmara, contrariando algo que por esse país fora tem sido um clássico, não faltando autarcas que se comportam como reencarnações de senhores feudais.

No caso de Lisboa a constituição de maiorias eleitorais tem sido constante, eleição após eleição. Foi assim que em 1989, pela mão de Jorge Sampaio, juntando então PS e PCP, a esquerda derrotou a direita. Mas a partir de 2001 o cenário mudou. Surgiu o Bloco de Esquerda. E o PSD, coligado com o PPM, venceu com Santana Lopes, numas eleições em que o CDS se apresentou isolado com Paulo Portas como candidato. A governação decorreu com acordo pós-eleitoral entre PSD e CDS. Algo que se repetiu em 2005, mesmo quando o Bloco elegeu pela primeira vez um vereador.

Em 2009 e 2013 António Costa conseguiu maiorias sozinho. Em 2017, Medina perdeu a maioria e teve de estabelecer um acordo com o Bloco, que tinha estado dois mandatos sem eleger vereador.

Chegados a 2021, assistimos a um curioso cenário eleitoral. Medina forja uma coligação como Livre; PSD e CDS voltam a coligar-se e, depois de anunciarem uma megacoligação, adicionam o Aliança aos tradicionais PPM e MPT, portanto sem grande novidade. Dos partidos com expressão parlamentar, PCP e BE vão a jogo e surgem as candidaturas da Iniciativa Liberal e do Chega.

A campanha está na rua. Depois de uma primeira sondagem pouco animadora para a candidatura de Carlos Moedas, outra deu-lhe o ligeiro bálsamo de que precisava como pretexto para um apelo ao "voto útil" destinado a derrotar Medina.

Não sei se são "papas e bolos" ou mero desconhecimento do princípio da ação-reação, mas se muitos não gostam de Medina, outros haverá que o preferem a Moedas. Cada apelo de "voto útil" em Moedas é também um apelo a que outros votem em Medina. Por isso cada apelo a "voto útil" para derrotar Medina não é mais do que reforçar uma possível maioria de Medina. Mesmo útil seria que não se criassem as condições para maiorias absolutas que permitissem a continuidade dos desmandos de Medina.

Nestas eleições os lisboetas têm para escolha diversificadas propostas e visões políticas. A cada uma cabe mostrar ao que vem, conquistar eleitores nos vários segmentos da população. No espaço não socialista cada um deve criar as condições para a reedição da reviravolta ocorrida em 2001. Útil, para mim, é eleger um vereador da Iniciativa Liberal em Lisboa.

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