E o sismo? Sentiste?

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Arrisco dizer que a pergunta que hoje dá mote a este Ponto de Partida foi a que mais se fez em Portugal na segunda-feira, nos minutos e horas que se seguiram ao sismo registado às 13.24, com epicentro a cerca de 14 quilómetros do Seixal, e que atingiu uma magnitude de 4,7 graus na Escala de Richter (o tremor foi sentido numa vasta faixa do território nacional, de Coimbra ao Algarve, passando por localidades do interior do país, como Abrantes).

E eu, o que senti? Senti que os portugueses, mesmo sendo sobejamente conhecida a história do devastador terramoto de 1755, assim como o facto de Lisboa ser uma das capitais europeias com maior risco sísmico, continuam impreparados para a resposta imediata a dar nestes casos. No trabalho, não vi ninguém sair do edifício para procurar uma localização segura. Nos contactos com familiares e amigos, percebi que quem sentiu o abalo permaneceu imóvel. Num direto televisivo, questionado sobre o que pensou quando o sismo ocorreu, um homem limitou-se a responder: “Pensei em acabar de almoçar.” Isto quando nas redes sociais já circulavam dezenas de memes a brincar com uma situação que poderia ser grave, bem como capas falsas de jornais a destacar supostas declarações premonitórias de Pinto da Costa sobre o sismo, com o mau gosto de isso acontecer no dia do funeral do histórico presidente do FC Porto.

Por outro lado, senti falta de informação oficial. O site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) esteve inacessível durante vários minutos, quando a dúvida crescia entre os portugueses. O ‘apagão’ aconteceu devido “a um volume de tráfego excecionalmente elevado”, sendo uma espécie de repetição do filme de 26 de agosto de 2024, quando outro sismo abalou Lisboa e o IPMA se foi abaixo. Ter informação fiável e no tempo certo é fundamental para o cidadão. Se a primeira falha não bastou, então que a segunda sirva para reforçar, de vez, os servidores do IPMA. A inação pode sair cara a todos.

Senti ainda a pressa de Carlos Moedas em ir para a rua vestir um colete da Proteção Civil, já depois de os serviços camarários fazerem chegar às redações a informação sobre esta visita. Não existiam danos a registar e os especialistas em sismos tentavam desescalar a gravidade da situação, contendo algum tipo de pânico que pudesse nascer. Mas, ainda assim, a campanha eleitoral tem destas coisas – há quem não perca uma oportunidade para aparecer. Ao autarca de Lisboa teria sido bem mais útil um simples comunicado à população, tranquilizador e com toda a informação útil que deve ser prestada preventivamente: o que fazer? para onde ir? etc. O direto televisivo era dispensável.

E o sismo, senti? Não. Nada. O abalo veio apenas, ainda que ao ralenti, de ver que, coletivamente, continuamos a aprender muito pouco com os erros.

Editor executivo do Diário de Notícias

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