E depois dizem para “não gastar nem 1 cêntimo em Defesa”…
Lembra-se da comissária europeia que se saiu com a ideia de que todos os cidadãos europeus deveriam ter um “kit sobrevivência” para casos de crise, como uma guerra? E reparou na reação dos partidos da esquerda radical, que usaram o caso para repetir a mensagem de que se tratava de uma mensagem alarmista que apenas visava promover a “agenda armamentista”? Pois que o apagão desta segunda-feira – confirme-se que não tenha mesmo nada a ver com ciberataques e tenha sido "apenas" uma questão de distribuição internacional – seja demonstrativo de como estas pessoas não fazem a mínima ideia do que estão a dizer.
O país e toda a região com a qual temos interdependências vitais está permanentemente sob risco de catástrofes, naturais ou criadas pelo Homem, que fazem com que, de um dia para o outro, possamos perder todo o modo de vida que construímos.
E é muito fácil tal acontecer. Bastou ver as imagens dos caos nas ruas assim que os semáforos deixaram de funcionar com a falta de eletricidade e os comboios de metro parados nos túneis com os passageiros retirados às escuras. Os hospitais tinham geradores a trabalhar, mas estes têm uma autonomia limitada – tivesse o corte de luz sido provocado por um ciberataque massivo, que levasse à suspensão do fornecimento durante dias, e a crise passava a ser sanitária. A comida nos congeladores em nossa casa, nos súper e hipermercados começou imediatamente a estragar-se…
Curiosamente, quem não deu muito pela falta de luz foram os transportes ferroviários. Os geradores de emergência das estações afetadas até se ligaram, mas como os funcionários estavam de greve as composições continuaram como já estavam, paradas.
O país tem aparecido bem posicionado nos índices internacionais de cibersegurança, mas precisa de fazer mais. As empresas têm de se preparar melhor e precisam de ter noção de que cada euro empregado em sistemas de proteção é um investimento, não uma despesa.
Também é preciso replanear infraestruturas essenciais, para garantir a nossa autonomia estratégica na rede elétrica (neste momento, reduzida a duas grandes centrais), de comunicações e de água, para criar redundâncias ativáveis instantaneamente em momentos de crise. Um trabalho que deve ser feito em conjunto com os meios civis (incluindo empresas privadas, obviamente) e Defesa, tanto a tradicional, como a ciber. Investir em inovação e sistemas duais – que tanto são comercialmente viáveis em tempo de paz, como seguros em tempo de guerra.
Todos os especialistas sabem isso. A aplicação só depende, em grande parte, de vontade política. A nós, cidadãos, cabe-nos olhar finalmente para a realidade como ela é e não como gostaríamos que ela fosse. E deixar de ouvir em quem só canta canções de embalar.