Duelo EUA e China em IA
O ChatGPT, criado pela norte-americana OpenAI, e o DeepSeek, criado pela startup chinesa em ascensão, devem ser analisados sob dois prismas: desenvolvimento tecnológico e impacto regulatório. A criação do ChatGPT, um modelo de linguagem de grande escala (LLM), implicou elevados recursos computacionais e avultados investimentos. Já o DeepSeek-R1, modelo mais evoluído daquela startup chinesa, promete um desempenho semelhante ao ChatGpt o1 (modelo de raciocínio mais avançado da OpenAI) com menos energia e capital, levantando questões sobre a eficiência e sustentabilidade do modelo de IA norte-americano.
A introdução do DeepSeek-R1 no mercado norte-americano teve fortes repercussões nas gigantes tecnológicas Nvidia, Broadcom e Taiwan Semiconductor Manufacturing Company, que sofreram perdas a rondar um bilião de dólares em capitalização de mercado com a tecnológica Nvidia à cabeça a perder 17%.
Donald Trump declarou tratar-se de um “alerta” ao Vale do Silício, exigindo mais investimento e desenvolvimentos rápidos. Satya Nadella, CEO da Microsoft, corroborou esta preocupação, realçando a combinação de eficácia e custos baixos apresentada pela DeepSeek.
Mas, a disputa entre a OpenAI e a DeepSeek transcende o combate pela inovação tecnológica, porque envolve considerações éticas e legais. A OpenAI respeita regulamentação rigorosa, tendo de assegurar a proteção de dados, enquanto a DeepSeek terá menor controlo normativo. Este cenário de utilização em larga escala de IA à escala global, vinca a necessidade de convergência regulatória internacional, garantindo que os avanços tecnológicos em Inteligência Artificial respeitem direitos, transparência e, assim, a confiança dos utilizadores
No campo regulatório, a União Europeia aprovou o Regulamento (UE) 2024/1689 (Regulamento da Inteligência Artificial) que visa salvaguardar e garantir a utilização de sistemas de IA seguros e éticos, impondo regras rígidas quanto à proteção de dados pessoais. Ora, a utilização de produtos IA norte-americanos e chineses na Europa, terá necessariamente de se conformar com o normativo regulatório europeu.
Já no duelo entre as tecnológicas americanas e chinesas, o embate será mais duro e não será difícil prever que a curto e médio prazo envolverá os respetivos governos, sendo muito provável que a necessidade de proteger dados, hábitos e segredos comerciais e industriais, impliquem a interdição recíproca da utilização daqueles produtos. No fim de contas, o desafio residirá em equilibrar inovação, custos e proteção efetiva dos utilizadores de IA, num contexto global onde a corrida pela liderança na criação de produtos IA se irá intensificar.
Advogado e sócio fundador da ATMJ - Sociedade de Advogados