Dois pesos e duas medidas

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Talvez este texto venha fora de tempo, mas não podia deixar de escrever sobre a perversão que é colocar uma escola pública e uma privada numa avaliação equitativa. Eu diria que a única variável comum é apenas ... serem um espaço de ensino que acolhe alunos. Não? As escolas públicas não escolhem nem os alunos, nem os professores. Já as privadas escolhem ambos... As escolas públicas não recrutam tendo por base as avaliações do ano anterior. Já as privadas... E reparem que falo por experiência própria, pois este ano, quando contactei um colégio privado, disseram-me duas coisas: que não tinham vagas, mas que enviasse as avaliações dos meus filhos e "logo se via o que era possível". Os mais crédulos dirão que é um pedido normal, os mais céticos, esses, irão torcer o nariz questionando sobre o motivo do envio das notas, não havendo vagas disponíveis. Estranho? Bem, se calhar apenas para alguns.

Eu não estou contra o ensino privado. Isso nunca!

Nem tão pouco estou contra o ensino público.

Estou contra a forma como o público trata os professores. Estou contra esta ideia parva de que o ranking define a qualidade de uma escola, de uma turma ou de um professor. Estou contra a ideia que se instalou de que as escolas públicas são o parente pobre do ensino.

Somos o país dos dois pesos e duas medidas. Passo a explicar. Tenho escolas públicas na minha zona de residência com professores que são distribuídos e, por oposição, não tenho médicos no Centro de Saúde da minha freguesia.

E porquê? Porque os professores que não são de carreira têm de andar ao sabor da via verde para conseguirem um contrato. Já os médicos...

Não me peçam para decidir, mas que isto não faz sentido, lamento, mas não faz.

Uma vida inteira a ouvir que o ensino e a Saúde são os pilares de uma sociedade e como os tratamos? Eu diria que mal. Não sei se devíamos "sortear" médicos e professores, mas que a balança está desequilibrada, está. No limite, decidimos sempre é com recurso a balanças diferentes, mas isso já é normal no nosso país.

Nada nos diz que um professor de Moimenta da Beira destacado para Faro não seja um excelente professor, mas uma coisa é certa, o seu nível de motivação é muito, muito abaixo da média.

Para dar (ainda mais) graça a este país, sugiro que se distribuam também jogadores e treinadores. Que tal?

Imagine-se assim dois clubes de futebol: um recebia treinadores e jogadores sem possibilidade de escolha, já o outro escolhia não só a equipa técnica, como também todo o seu plantel. Que tal? Acham que assim já se entende o problema da falta de autonomia?

Designer e diretor do IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia

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