Doce invasão
Estão por todo o lado! De onde surgiram? O que estão cá a fazer? Isto é uma invasão!
Bem sei que esta crónica se chama Conversas de Café que as frases acima escritas podiam entusiasmar erradamente e, em modo pavloviano, uma franja da população que gosta muito de instigar, destabilizar, desrespeitar e provocar a confusão. Mas não! O assunto das próximas linhas é bem mais leve e doce do que estão, eventualmente, a pensar.
Não serei certamente o único que nos últimos anos se deu conta do crescimento das pirâmides de caixas com Panetones nos supermercados. A cada ano que passa vão ganhando mais protagonismo, sobretudo na época do Natal. Fiz o teste de observar se na zona de pagamento das lojas existiriam, por ventura, hordas de clientes a comprar os ditos bolos. Mas não.
Nas várias lojas que visitei nunca vi grande entusiasmo pelo bolo italiano apesar do preço ser acessível. E se é normal que ao longo da história se adaptem costumes de outras regiões ou países - de recordar a história da portuguesa Catarina de Bragança que tornou o chá e o doce de laranja (marmalade) numa instituição britânica -, que tem contornos que o espaço para estas linhas não permite detalhar, não percebo a insistência com o italiano Panetone.
Mais, e é aqui que quero chegar: noto a diminuição do espaço dedicado aos doces de Natal portugueses. As azevias, os sonhos, as filhós e alguns bolos-rei (com as suas derivações) estão a tornar-se não só mais raros de encontrar como mais caros. Muito mais caros.
Temo sim que este “novo hábito” do Panetone seja, uma vez mais, um empurrão do capitalismo desenfreado para um consumismo elitista, a que só alguns têm direito. Mesmo de coisas típicas e que sempre tomamos por adquiridas. E a culpa nem sequer é do Toni.