A semana foi agitada no Palácio das Necessidades, com as visitas do presidente (PR) de Angola e do Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) de Marrocos, Nasser Bourita, que veio a Lisboa, a convite do MNE português, para este lhe confirmar, o que já tinha sido assegurado, em maio de 2023, pelo então primeiro-ministro António Costa. O quê? O ponto 11, da Declaração Conjunta de 2025, “sobre a questão do Sahara, Portugal reconhece a importância da mesma para Marrocos, bem como os esforços sérios e credíveis enviados por Marrocos, no âmbito das Nações Unidas, para alcançar uma solução política justa, duradoura e mutuamente aceitável para as partes. Os dois ministros reafirmaram o seu apoio à Resolução 2756 do Conselho de Segurança da ONU(…) Neste contexto, a República Portuguesa reafirma o seu total apoio à iniciativa marroquina de autonomia, como a base mais credível e construtiva para a resolução deste diferendo, no âmbito das Nações Unidas”. Telegraficamente, Marrocos quer trabalhar com Portugal a possibilidade de nos tornarmos um dos cinco principais parceiros comerciais do reino alauita. Há uma conjugação de circunstâncias que poderão obrigar a que isso realmente aconteça. Primeiro, foi o ex-chanceler alemão Olaf Scholz que, em agosto de 2022, disse querer “ver o gás de Sines chegar à Europa Central”! Ora isso só será possível com foco total na ambição marroquina em concluir o gasoduto Tânger-Nigéria. O interesse é de todos, pelo que esta inevitabilidade europeia, coloca Sines no epicentro do que poderá vir a ser o hub de produção de hidrogénio verde, do Mediterrâneo Ocidental, juntamente com as “sete Sines espanholas”. Ora cá está a razão principal para este triunvirato (Mundial 2030 – Portugal, Espanha e Marrocos). Não é futebol, é política; Segundo, dá-se a circunstância da complementaridade entre o vazio que Marrocos nos poderá preencher na falta da nossa profundidade estratégica no Sahel e a nova prioridade atlântica marroquina, que também é nossa, arte de marear à superfície e no fundo do mar, com o desenvolvimento do Projeto de Extensão da Plataforma Continental, o chão debaixo da coluna de água, e que aqui e ali, precisa de ajustamentos territoriais. Ou seja, até debaixo de água estamos destinados a nos entender; Terceiro, deixar claro que há um Portugal que não quer, mas em quarto, surge a geografia que fala mais alto! Da mesma forma que o resultado da semana diplomática se resumiu à presença em Lisboa, do PR do principal parceiro económico em África e o MNE do vizinho que quer ir ainda mais além! Mabrook Sidna, a celebrar 26 anos de reinado, quarta 30. Politólogo/Arabista Professor do Instituto Piaget de Almada www.maghreb-machrek.pt O Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.