Do futuro do PS

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O Programa de Godesberg, ratificado pelo Partido Social-Democrata alemão na sua convenção de 15/11/59, conduziu a que o mesmo partido adoptasse as teses reformistas de Eduard Bernstein, estabelecendo, nomeadamente, que “devemos resistir a todas as ditaduras…, pois violam a dignidade humana, destroem a liberdade do homem e o Estado de Direito. O Socialismo pode ser realizado somente através da democracia e os comunistas têm falsificado as ideias socialistas, explorando os conflitos na sociedade para estabelecer a ditadura do seu partido”.

Para os sociais-democratas (ou socialistas democráticos) a construção de uma sociedade mais justa passa pelo reformismo, o que significa que os mesmos aceitam a capacidade de auto-reforma do sistema capitalista, no sentido da criação de uma sociedade mais justa e mais próxima da perfeição, já que a perfeição se apresenta inatingível, tal como é reconhecido por qualquer hegeliano, já que uma nova síntese passa a constituir a nova tese, a que se oporá uma anti-tese, de que resultará uma nova síntese, repetindo-se esse processo renovador.

Em Bad Godesberg os sociais-democratas alemães adoptaram o princípio de que o seu partido deveria ser inter-classista e não um partido ao serviço de uma classe.
A partir de então, os sociais-democratas passaram a preocupar-se com o Bem-Estar Geral e não com uma dinâmica conduzida pelo que se convencionou designar de luta de classes.

Por outro lado, para os sociais-democratas não existe uma esquerda, mas antes várias esquerdas, nem todas democráticas, não fazendo sentido adoptar estratégias assentes na “unidade de esquerda”.

Para os sociais-democratas é importante caminhar-se para uma sociedade em que exista, tendencialmente, igualdade de oportunidades, com um Estado Social forte, com um Sistema de Saúde e um Sistema Educativo inclusivos, e com uma Segurança Social que tenha, ela própria, uma componente redistributiva.

Como é natural dispor-se de um Sistema Fiscal e de um Sistema Judicial tendencialmente justos. Mas, jamais fará sentido pôr-se em causa a liberdade, mesmo que tal seja feito em nome dessa mesma liberdade.

Existe um abismo separador entre quem está contra a democracia representativa e quem está a favor, não fazendo sentido que um Partido Socialista, de inspiração social-democrata, se alie a partidos ou movimentos não-democráticos quando o que está em causa, hoje em dia, é a democracia.

Do que se disse, importa sublinhar o seguinte:
O PS deve optar por uma postura reformista, privilegiando, ainda, a defesa da democracia em Portugal, na Europa e no Mundo; O PS deve abandonar um postura de liderança de um “bloco de esquerda“ ou de uma “esquerda unida”, pois existem divergências insanáveis dentro das correntes de esquerda; O PS deve preocupar-se com o futuro da democracia no Mundo, na Europa e, claro está, em Portugal, colocando essa preocupação no topo das prioridades das políticas a empreender; O PS deve procurar respostas para a necessidade de se reforçar a componente federalista europeia e bem assim para se vitalizar o eixo de segurança na Europa; O PS deve procurar, cada vez mais, uma visão inter-classista da sociedade do seu tempo, procurando melhorar a situação dos segmentos sociais menos privilegiados, sem, todavia, penalizar injustamente os restantes segmentos da população, dificultando o desiderato de maximização da função Bem-Estar Social, considerada em termos globalizantes.

Acresce, hoje em dia, a emergência de uma situação de guerra na Europa que afectará sempre, directa ou indirectamente, Portugal.

Numa situação destas, o essencial para o PS deverá ser a defesa dos interesses da Democracia e da Liberdade, na Europa, o que passa pela solidariedade efectiva com a Ucrânia.

Tal poderá implicar sacrifícios para todos os portugueses e, portanto, a existência de uma plataforma democrática favorável a que se dê prioridade a uma política consensual com os restantes partidos genuinamente democráticos.

Trata-se de algo de primordial importância, que obriga a secundarizar divergências ideológicas em função de uma prioridade nacional.

Daí que o PS precise de uma liderança que obedeça à indispensabilidade de uma postura social-democrata moderada, consensual e patriótica e não de uma liderança ao serviço dos interesses da “classe trabalhadora”, articulada com um “bloco de poder da esquerda progressista”.

Esta é a verdade, nua e crua.

E ou os dirigentes do PS percebem isto ou o PS irá evoluir para um partido socialista francês, tal como foi liderado pelo Sr. Hamon e que é, hoje em dia, aliado do Sr. Mélenchon na sua deriva esquerdizante.

Nem mais, nem menos…

Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico

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