De uma nova política monetária?
Durante muitos anos, a variável estratégica da política monetária foi a taxa de juro.
Se se pretendia implementar uma política expansionista, baixava-se a taxa de juro, a procura de crédito aumentava, o investimento e o volume de massa monetária em circulação sofriam um incremento, o rendimento evoluía positivamente e, naturalmente, os preços conheciam uma tendência “altista”.
Se se pretendia implementar uma política contracionista, aumentava-se a taxa de juro, a procura de crédito diminuía, o investimento sofria uma redução, o mesmo acontecendo com o volume de massa monetária em circulação e com o nível de rendimento, conhecendo os preços uma tendência “baixista”.
Se, por exemplo, estivéssemos confrontados com um “choque do lado da procura”, tudo se resolvia com o mecanismo convencional: os juros subiam, o consumo e a procura de crédito baixavam e os preços sofriam uma redução.
Mas, admitamos que estamos confrontados com um choque do lado da oferta, isto é, que, a título de mero exemplo, fruto de uma guerra ou de uma pandemia, passava a haver escassez de matérias-primas e estrangulamentos nas cadeias de produção.
Nesse caso, existiria inflação não por excesso de procura, mas por escassez da oferta, não sendo óbvio que o mecanismo da taxa de juro funcionasse eficazmente.
A taxa de juro poderia aumentar, mas tal poderia não ser suficiente para que a procura se apresentasse inferior à oferta, continuando, muito pelo contrário, a ser superior, pelo que, se estivéssemos confrontados com uma tendência “altista” dos preços, não conseguiríamos invertê-la.
Nessa situação, haveria uma insensibilidade dos preços à subida da taxa de juro, pelo que seria necessário utilizar novos instrumentos para que a dita insensibilidade fosse superada.
Digamos que, em caso de choque do lado da oferta e abaixo de certos mínimos psicológicos de consumo, o instrumento taxa de juro não funciona ao nível da política monetária convencional.
Seria, eventualmente, necessário recorrer a um instrumento orçamental de apoio às unidades empresariais, tendo em vista o financiamento dos custos de produção, desde que houvesse a garantia de se fazer repercutir a redução dos custos no preço final.
Só quando os níveis da oferta se restabelecessem e a procura regressasse à sua trajetória normal, ultrapassando os mínimos psicológicos, é que os instrumentos convencionais voltariam a ser eficazes.
Acresce ao que se disse que se os instrumentos de apoio à poupança contemplarem soluções remuneratórias excessivamente gratificantes, podem desincentivar o consumo e, por conseguinte, o investimento, propriamente dito.
Keynes tinha razão quando afirmava que uma poupança elevada à custa de um consumo agregado excessivamente baixo apresentava-se de sinal recessivo e não de sinal expansionista.
De facto, a variável determinante do investimento não é, necessariamente, a poupança, mas antes a expectativa de evolução do consumo.
Logo, um outro aspeto a repensar na política monetária está na utilização de novos - e muito variados - instrumentos de poupança que não conduzam o consumo agregado a uma evolução tão desfavorável que a mesma esteja na origem de uma redução das expectativas de evolução da procura global.
Trata-se de pensar a política monetária como correspondendo a um instrumento que permita um salutar crescimento (e, mais ainda, desenvolvimento) das economias, mas sempre no respeito de “equilíbrios em fio de navalha”.
Nem mais, nem menos…
Economista e professor universitário