Há algumas semanas, os Rolling Stones anunciaram o cancelamento do tour de concertos na Europa para promoção do 24.º álbum Hackney Diamonds: porque “não conseguimos ajustar uma agenda”. No ano passado, a banda cumpriu o tour por 16 cidades nos EUA com uma afluência média superior a 50.000 pessoas e uma receita total de 235MUSD (milhões de dólares). Com mais de 2000 concertos ao longo dos seus 63 anos de carreira e apesar da morte do baterista Charlie Watts em 2021, os membros da banda de Mick Jagger, 81 anos, Keith Richards, 81, e Ronnie Wood, 77, mantêm em estúdio e palco o talento e a energia de sempre e estão a contar que o tour europeu se realize com 15 a 20 concertos já em 2026.Sem nada a provar e com idade de serem avôs de muitas estrelas do momento, por que continuam os Stones a fazer tournées? Porque as receitas de álbuns caíram muito com streaming, cada concerto de uma megaestrela rende dezenas de milhões e há um apetite crescente para concertos ao vivo - de Melbourne a Lisboa, as casas estão sempre cheias. E porque lhes dá gozo.Não espanta que os maiores artistas atuais apostem cada vez mais em longas tournées de megaconcertos. Com apenas 35 anos de idade e 13 de carreira pop, Taylor Swift lançou-se no gigantesco Eras tour: 159 concertos sobrelotados, com 3,5 horas de duração média cada (incluindo dois em Lisboa), em 51 cidades de 5 continentes, encaixando mais de 2000MUSD e tornando o Eras provavelmente a maior tournée da História.Os Coldplay são outro bom exemplo. Com 18 anos de carreira, fizeram oito tournées - passando muitas vezes por Lisboa. Na primeira, em 2001 já com o álbum Parachutes no topo, tiveram 15 mil espectadores/concerto e faturaram 4,2MUSD. Na mais recente, Music of the Spheres (o das pulseirinhas luminosas, em 2022-2025) a afluência por concerto foi mais do triplo ... e as receitas atingiram 1200MUSD.Mas a questão mais interessante neste paradigma geracional é, afinal, quem tem a carreira com mais impacto e que gerou, até aqui, mais riqueza. Será que são as estrelas do momento, elevadas ao Olimpo por extraordinárias máquinas de promoção e imagem? Ou serão ainda as grandes bandas e artistas que marcaram os últimos 50 anos, muitas ainda no ativo, que teimam em fintar o passar do tempo, como o caso paradigmático dos Stones ?Esta questão tem resposta através de duas medidas seminais, cujos resultados são pouco conhecidos e por isso tão interessantes de partilhar, colocando lado a lado bandas ou artistas a solo: por um lado o net worth e, por outro, as vendas de conteúdo reivindicadas, que contabilizam as descargas em apps, através dum algoritmo comparativo, face às vendas de LP ou CD. Vejamos então o top-10 em cada uma das categorias ...Top-10 Net worth 2024 (‘000MUSD)Jay Z (2,5), U2 (1,8), Taylor Swift (1,6), Rollling Stones (1,45), Paul Mc Cartney (1,2), Mettallica (1,0), Bruce Springsteen (1,1), Madonna (0,85), Beyoncé (0,83) e Queen e Pink Floyd (0,8).Top-10 vendas (Milhões de unidades reivindicadas)Beatles (550), Michael Jackson (450), Elton John (300), Queen (275), Madonna (270), Led Zeppelin (250), Rihanna (240) e Pink Floyd (225)Como seria de esperar, as bandas e artistas da nossa geração dominam ambos os rankings e, à exceção dos fenómenos americanos com maior net worth, nenhum artista ou banda com menos de 20 anos está presente - mesmo bandas que já estão separadas ou artistas falecidos.Claro que os grandes clássicos tiveram uma carreira mais longa, onde houve mais tempo para produção de conteúdos, mas isso não justifica os rankings - os Pink Floyd gravaram 15 álbuns em estúdio e os Coldplay 12, logo não é uma questão de quantidade, mas de qualidade. Nenhum artista que tenha emergido nos últimos 20 ou 30 anos atingiu a dimensão artística dos clássicos e quase nenhum se mantém com força no ativo. A intemporalidade da atratividade dos grandes clássicos aporta, além disso, um imenso potencial comercial. Mesmo que já não se produzam novos conteúdos, as suas produtoras mantêm as máquinas vivas e vibrantes com edições especiais, merchandising e... concertos. Acresce a produção de conteúdos a solo ou com novas bandas, cujo sucesso assenta na simbologia e nostalgia do passado e no talento intrínseco destas estrelas até à morteEm conclusão, por mais hype que se construa em torno de artistas de novas gerações, o talento e a inovação puros vão continuar a reinar - e, neste contexto, a qualidade superior dos grandes clássicos é inquestionável, foi uma geração de artistas extraordinária e, até hoje, não voltou a haver ninguém à altura.O tempo dirá se alguma banda ou artista poderá no futuro vir a mostrar o carisma, o virtuosismo, a paixão, a originalidade ou a consistência de qualidade de conteúdos dos grandes. Para mim, e oiço muito o que há de novo, não apareceu nada - mas é que nem de perto. Empresário, gestor e consultor