Já não existe fruta da época. É possível usufruir de uvas ou de morangos em qualquer estação do ano, as alterações climáticas fazem com que de um dia para o outro passemos do inverno para o verão ou vice-versa. Mas num mundo que parece estar a agonizar no que à estabilidade diz respeito, há algo que se mantém firme. Todos os anos, por esta altura, são apresentados pelos órgãos de comunicação social os rankings das escolas, ordenação baseada nas médias dos exames nacionais. Todos os anos podemos constatar como o ensino privado supera as escolas do ensino público. As variáveis socioeconómicas favoráveis inerentes à população discente nas instituições do ensino privado ou a seleção prévia de alunos que acontecem em várias destas instituições contaminam necessariamente este tipo de ordenação, procedendo-se assim a comparações do incomparável. Então qual é utilidade efetiva dos rankings? Além da publicidade feita aos colégios mais bem colocados, a utilidade deste sistema de ordenação parece-me ser bastante escassa..São conhecidos os problemas da Escola Pública. A falta de professores, a desvalorização social da classe docente, algumas práticas pedagógicas mais próximas do modelo de escola do século XIX do que do século XXI, as dificuldades da escola em responder de forma mais individualizada a questões de aprendizagem ou emocionais de algumas crianças e jovens mais problemáticos… tudo isso e ainda outras coisas não listadas fazem com que a escola tenha gradualmente deixado de funcionar como o elevador social que precisamos. Dizer que as oportunidades proporcionadas às crianças, independentemente da sua origem social, são semelhantes é uma evidente falácia. Porém, a Escola Pública foi talvez a maior conquista do 25 de Abril, num país que na época teria 30% de analfabetos..Atualmente, a população portuguesa é alfabetizada, ou quase (existem porventura, infelizmente, uma percentagem ainda significativa de analfabetos funcionais), mas a batalha do ponto de vista quantitativo foi ganha. Agora é preciso continuar a lutar do ponto de vista qualitativo para que a escola seja verdadeiramente inclusiva e possa estender a mão a todas as crianças, mesmo a todas. Neste contexto, existem aspetos mais interessantes do que os rankings para a comunicação social se ocupar de forma mais sistemática - não quer dizer que não o faça por vezes. Posso dar algumas sugestões, por exemplo, dar relevo, reforçar e entrevistar escolas e professores com boas práticas e sucesso educativo, sobretudo implantadas em contextos sociais mais desfavorecidos e/ou problemáticos. Dar relevo a investigações que favorecem a prevenção das dificuldades de aprendizagem e/ou problemas emocionais. Enfatizar a importância da prevenção e por aí fora..Terminando desta vez com questões hortícolas, gostaria de relembrar aquele velho ditado "de pequenino se torce o pepino". E nessa linha, sendo impossível de melhorar tudo de uma vez na escola pública, talvez fosse importante olhar com olhos de ver as investigações que dão conta da importância de uma educação pré-escolar de qualidade ou aquelas outras que demonstram a relevância das aprendizagens básicas do primeiro ciclo no restante percurso escolar.