Cuidarmos uns dos outros
O dia de ontem foi marcado não só pelas largas dezenas de incêndios florestais que ceifaram vidas e destruíram casas e hectares de floresta, mas também pelo incidente numa escola da Azambuja, onde uma criança de 12 anos atacou seis colegas com uma faca. Este último é particularmente perturbador, sobretudo para quem tem filhos em idade escolar. Haverá pior pesadelo para qualquer pai ou mãe do que saber que os nossos filhos não estão seguros na escola? E como assimilar e compreender que uma criança de 12 anos foi capaz de atacar os colegas com uma faca?
Ninguém conhece ainda as razões que levaram aquela criança a agir desta forma e devemos ter cautela nas observações que fazemos. Podemos até nunca vir a saber o motivo do sucedido. E tanto no caso dos incêndios como nos ataques em escolas, o papel dos media reverte-se de especial importância. Temos o dever de noticiar estes acontecimentos com rigor e sobriedade, fugindo ao sensacionalismo e à exploração da desgraça alheia. Temos ainda a responsabilidade social de procurar não contribuir para que estes atos possam ser alvo de imitação por terceiros. No Diário de Notícias, estamos conscientes desta responsabilidade.
Porém, a responsabilidade não é apenas dos media. É de todos nós, cidadãos, pois temos o dever de cuidar uns dos outros. Qualquer que seja a razão que levou aquela criança a fazer o que fez, algo terá provavelmente falhado na família, na escola ou na comunidade, para que tal sucedesse. Não se trata de uma questão política ou ideológica. Construir uma sociedade em que nos preocupamos uns com os outros é algo que tem a ver com valores e não com ser de esquerda ou de direita. E se queremos combater a banalização da violência entre as crianças e os jovens, devemos começar por procurar entender as causas mais profundas deste fenómeno que se tem tornado cada vez mais visível em todo o mundo. Todos sabemos que as crianças felizes e mentalmente saudáveis, que se sentem amadas e integradas, não atacam os colegas com facas.
Nota: Sónia Melo, de 36 anos, Susana Carvalho, de 44 anos, e Paulo Santos, de 38 anos. Os três eram bombeiros da corporação de Vila Nova da Oliveirinha e perderam a vida ontem, quando o veículo em que seguiam foi apanhado pelas chamas, em Nelas. Deram a vida ao serviço do próximo e merecem a nossa homenagem. Esperemos que o Governo, que promete “fundos públicos abundantes” para reconstruir as casas destruídas pelos fogos, procure também apoiar as famílias destes bombeiros que perderam as vidas no combate aos fogos. Portugal deve-lhes isso, tal como deve muito às centenas de outros bombeiros que por estes dias arriscam as suas vidas por todos nós.
Diretor do Diário de Notícias