Corrupio negocial

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A diplomacia americana está hiperactiva em múltiplas frentes: em Genebra foi a diplomacia comercial para estancar a escalada da guerra das tarifas e criar um modus vivendi civilizado com o grande rival chinês. Os resultados, para já, não são de desprezar: congelamento das tarifas por 90 dias e uma baixa substancial das taxas alfandegárias limite que Trump impusera a Pequim (145% nos produtos chineses no mercado americano). Na resposta, os chineses tinham retaliado com 125% para as mercadorias americanas na China. Estes 20% de diferença vão manter-se, mas numa escala de valores bem reduzida – 30% para os produtos chineses na América, 10% para os produtos americanos na China. Tudo isto foi acordado numa reunião em Genebra, na Suíça, onde estiveram o Secretário de Estado norte-americano do Tesouro, Scott Bessent, e o Vice-Primeiro Ministro chinês, He Lifeng.

Se, entretanto, no “cessar-fogo tarifário” dos 90 dias, não houver acordo definitivo, a taxa recíproca de 10% subirá para 34%, ou seja, para a taxa anunciada por Trump a 2 de Abril. De qualquer forma, foi criada uma comissão permanente, de parte a parte, para seguir e acautelar o processo.

Também em Oman continuaram as negociações do enviado especial de Trump, Steve Witkoff, com o ministro dos Estrangeiros do Irão sobre os projectos nucleares de Teerão e as condições de segurança para a República Islâmica os suspender.

Outro ponto quente, ou mesmo ardente, nas duas últimas semanas, foi o eterno conflito entre os dois vizinhos desavindos – a Índia e o Paquistão – por causa de Caxemira. Só que, desta vez, as costumeiras acções indirectas de grupos infiltrados e protegidos deram lugar à acção directa, com armas clássicas, de parte a parte. As intervenções do vice-presidente J. D. Vance e do Secretário de Estado Marco Rubio parecem ter calado as hostilidades e foi Trump quem anunciou, em primeira mão, o cessar-fogo.

Está também de pé o mais importante dos acordos de cessar-fogo e de paz entre a Rússia e a Ucrânia. Claramente não aconteceu nas 24 horas alardeadas, mas tem havido alguns avanços. Talvez por se verem marginalizados no processo, os europeus – Macron e Starmer, agora reforçados por Merz e Tusk – juntaram-se em Kiev para intimar Putin a não deixar de estar presente em Istambul para o frente a frente com Zelensky, na quinta-feira, 15 de Maio. O que foi uma forma de garantir a ausência do líder russo “para não ceder a imposições”. Que resultou.

Entretanto, Donald Trump visitou a Arábia Saudita, o Catar e os Emirados Árabes Unidos. Foi uma viagem de negócios pelo Médio Oriente junto de potenciais investidores e clientes dos Estados Unidos – o gigante saudita, que prometeu de 600 mil milhões a um trilião de dólares de investimentos; o sultanato do Catar, que, embora pequeno, conta com a admiração Trump por ser “o país do mundo com maior renda per capita”; e os Emiratos, que continuam bem e se recomendam. Os cataris, entretanto, compraram 160 boeings e fizeram outras encomendas no valor de 200 mil milhões de dólares. Há ainda a eventual oferta do Sultão a Trump de um Air Force One, super luxuoso, que está a levantar compreensível polémica nos EUA, até por razões de segurança.

Trump sabe que os seus hóspedes árabes gostariam de ver bem concluídas as negociações dos Estados Unidos com o Irão, o fim dos bombardeamentos em Gaza, e a solução dos “dois Estados” para a Palestina bem encaminhada.

Politólogo e escritor

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

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