Após a posse de Trump, assistimos a reiteradas ameaças de guerra comercial e sanções a países aliados dos EUA. Depois veio o discurso do secretário da Defesa dos EUA ao Grupo de Contacto de Defesa da Ucrânia na NATO; após ter revelado já ter claudicado em relação às pretensões de Putin quanto à Ucrânia, disse aos europeus que estavam por sua conta, os EUA estão agora preocupados com as suas próprias fronteiras e com a China. Seguiu-se o discurso do vice-presidente dos EUA na Conferência de Segurança de Munique, no qual se declarou “mais preocupado com a ameaça interna” e com “o recuo da Europa em relação a alguns dos seus valores mais fundamentais”. Vimos depois a forma como Trump abordou as negociações sobre o futuro da Ucrânia, conduzidas entre os EUA e a Rússia à revelia dos europeus e da própria Ucrânia (!). Confirmou-se, entretanto, que o mesmo Trump subscreve a narrativa de que a Rússia não foi o agressor nem iniciou a guerra. E, para que se não pense que é só retórica, os EUA votaram na ONU ao lado da Rússia e da Coreia do Norte. Por fim, depois da forma miserável como o secretário do Tesouro norte-americano exerceu chantagem para o saque dos recursos minerais da Ucrânia, tivemos a emboscada a Zelensky numa reunião da Casa Branca, que deixou a nu a falta de pudor, de educação e de princípios da nova liderança americana. Vamos ter que suportar esta corja durante 4 anos. Talvez mais, uma vez que o novel querido líder americano ganhou a eleição presidencial com 77 milhões de votantes nele, quando já era bem conhecida a peça e o seu passado de mentiroso em série e criminoso com várias condenações judiciais. Nada garante que não haja novos líderes dos EUA deste calibre, talvez não tão boçais. Na Europa, há uns partidos de extrema-direita que ainda não perceberam que o movimento MAGA é ultranacionalista americano, vê a UE como um inimigo e não hesitará em abandonar os povos europeus à sua sorte. Estes tontinhos ultranacionalistas e “soberanistas” pululando em muitos países europeus não percebem que, no atual mundo multipolar de grandes blocos económicos, a relevância de cada país europeu por si só é diminuta, quando não nula; só a UE tem expressão e é relevante. Só alguns euroatlantistas mais seguidistas, quando não avençados, acham que é possível continuar a confiar nos EUA como parceiro (esqueçamos a expressão “aliado”, deitada borda fora pela nova liderança estado-unidense). Existe na Europa capacidade e poder económico, tecnológico e militar para não nos deixarmos intimidar por qualquer autocrata com delírios imperialistas. .Que o fim da crença (é disso que se trata, os interesses nunca coincidiram) no “amigo americano” sirva para que se perceba que a Europa tem que preparar a construção do seu futuro por si só, sem os EUA. Consultor financeiro e business developer www.linkedin.com/in/ jorgecostaoliveira