Conferência europeia

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Foi anunciado oportunamente que haveria uma conferência sobre o futuro da Europa, talvez uma "nova esperança democrática", a realizar em 2021/2022, segundo anunciou e analisou o Rameses de 2021. Iniciou-se no Porto, com a intervenção, na Cimeira Social do Conselho Europeu, do presidente nosso primeiro-ministro. Os temas anunciados foram ligados ao de "governar com o povo", ser "um conselho e não uma refundação", imposta pela crise em que todos se encontram, causada pela covid-19.

A crise é ao mesmo tempo uma oportunidade e um risco, a exigir coragem pelas inquietações demasiadamente severas pelos riscos que desafiam as populações, não apenas a situação sanitária, mas também a ameaça ambiental, a crise económica, tudo o que terá influência nos pensamentos sobre as competências e meios futuros da União. A intervenção recente de Macron demonstra o que é chamado "o risco indispensável da iniciativa", e conviria acompanhar a intervenção do nosso ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Santos Silva. Na organização e história da ONU, prevendo as dificuldades, a Agenda para a Paz de Boutros Boutros-Ghali, no fim do Day Concert de 1960, não garantiu a paz invulnerável. Por isso, também o processo da União Europeia começou por tornar valiosa a diplomacia que usa evitar o conflito, e a ONU talvez deva valorizar esta iniciativa, sobretudo, repensar os deveres de "recuperar e enfrentar as ameaças e as responsabilidades", de organizar os "instrumentos institucionais", e de repensar a "metodologia de intervenção", tendo o secretário-geral com "dignidade igual" à dos outros membros gestores da ONU.

Lembrando o entendimento dos fundadores quer da ONU quer da UE, e tendo por impossível recorrer sempre eficazmente aos armamentos nos conflitos, a diplomacia ganha em ser uma intervenção prioritária para eliminar a não cooperação que foi proclamada pelo último presidente dos EUA, ou a violência que os aristocratizados países com veto no Conselho de Segurança eventualmente apoiam, por razão dos seus interesses, ficando as crescentes graves agressões apenas a lembrar o conceito presidencial de Bush ao ataque às Torres Gémeas de Nova Iorque, no sentido de que "é tarde para os homens e cedo para Deus".

É esta sabedoria, lembrada pelos factos que teimaram em desviar-se dos princípios, que seguramente foi esquecida, face a qualquer das instituições inspiradas pelo fim da guerra, sofrendo o esquecimento surpreendente do exercício e do respeito pela diplomacia, designadamente numa visita internacional recente da presidente da Comissão Europeia, acompanhando o presidente do Conselho, na qual foi recebida como se fosse a rainha Ginga, que veio ao encontro do governador colonial com o banco trazido de casa, que era um escravo que se ajoelhava e dobrava para servir de assento. Parece inaceitável tal procedimento, que afeta o prestígio da União, a leal cooperação dos membros da estrutura política, e a reflexão sobre a crise global da situação internacional.
A autenticidade foi ferida. Não é seguramente necessário relembrar os motivos pelos quais foi destruído, com guerra, o império euromundista. Mas essa grave rutura da paz por inspiração dos direitos dos povos justifica uma projetada nova estrutura da relação internacional, exigente de diplomacia, tudo a exigir decisões inovadoras para acalmar a deusa Gaia, em cólera por termos destruído a natureza, e porque a política das concorrências pela hierarquia internacional levou a falhar o sonho de Kung, destinado a organizar a desordem, palavra que não é suficiente para invocar os mortos da Segunda Guerra Mundial, e cujo sentido está a ser ultrapassado pela concorrência das potências, agravada com a capacidade destruidora do ataque da covid-19.

Mas as violações dos imperativos da diplomacia, primeira oportunidade de conseguir impedir violências e conflitos, que se avizinham, não podem ser ignoradas nem consentidas. Já não é apenas do geral Ocidente que se trata, é da parte com maior importância histórica, a defender uma identidade coletiva que soma às dificuldades do passado a circunstância de evitar as falhas do difícil presente, no qual continua a ter fundamento a advertência de Toynbee de que o resto do mundo considera os ocidentais os grandes agressores dos tempos modernos. Infelizmente, quanto ao Ocidente, será de meditar que não é oportuno aceitar uma posição não ofensiva daquele conceito, não mostrar defender um paradigma ético que reforce solidariedades, sempre procurando que o credo dos interesses esteja condicionado pelo "credo dos valores". Mandela repudiava que lhe reconhecessem santidade porque um santo é um pecador que luta até ao fim. Também, todavia, não são os pecadores do passado que inspiram necessariamente a Europa de lutar até ao fim, à paz. Acontece que, nesta data, África e sobretudo o norte de Moçambique, estão a ser vítimas de uma agressividade brutal, incluindo mulheres e crianças, para cuja paralisação não chega com dificuldades a diplomacia, porque é "tarde para os homens" e "cedo para Deus".

E por isso não é tarde para que o Conselho de Segurança exerça a sua responsabilidade interventora, que repetidamente omitiu. Nem que a Europa estimule a justiça natural, mensagem da Conferência do Porto.

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