Como não comunicar um apagão ou outra crise qualquer
O primeiro comunicado de uma entidade oficial sobre o apagão total que atingiu o nosso país nesta segunda-feira chegou ao e-mail da redação pelas 13h05, cerca de uma hora e meia do país ter ficado às escuras.
Era da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e limitava-se a informar que “os sistemas de redundância da ANEPC” estavam a “funcionar normalmente, permitindo que o sistema de comando, controlo e socorro funcione sem constrangimentos”.
Acrescentava ainda que estava “a acompanhar a situação e a adotar os procedimentos necessários, nomeadamente a reunião do Centro de Coordenação Operacional Nacional”.
Não era muito, mas já era alguma coisa. Pelo menos aquela sensação, para quem tinha estado em blackout durante uns infindáveis 90 minutos, que o organismo responsável pela proteção e emergência estava operacional.
Enquanto aguardávamos atualizações, surgiu outro comunicado, mas não da ANEPC. Foi do Centro Nacional de Cibersegurança, pelas 13h48. Adiantava um pouco mais.
Que se tinha tratado de “uma falha que afetou alguns países europeus” e que não sido identificados “até ao momento, indícios que apontem para um ciberataque”.
Se pensámos que tinha sido um pouco estranho duas entidades distintas a comunicar sobre o mesmo assunto – e um assunto de enorme sensibilidade – a surpresa não ficou por aqui. Pelas 16h31 um novo comunicado, desta vez do Sistema de Segurança Interna (SSI), cinco horas depois do apagão, com uma atualização três minutos depois.
Avisava que devido à "complexidade da situação, poderia demorar até que o fornecimento elétrico fosse totalmente restabelecido".
Outra atualização chegou pelas 20h a dizer que "a reposição está a ser feita de forma faseada", o que a esta hora já tinha sido constatado por todo o país.
Esta triplicação de entidades a comunicar sobre um mesmo facto pode ser só um detalhe na gigante dimensão do corte de energia que a todos afetou e alarmou, mas esta ligação, estes primeiros contactos deviam, sem sombra de dúvidas, estar coordenados.
O Estado deve falar a uma só voz desde início.
Muito mais quando se tratam de matérias que envolvem a segurança nacional. Está há mais de 10 anos previsto um plano de comunicação para situações de crise, da responsabilidade do SSI, mas sobre ele nada se sabe. Neste país proliferam organismos e entidades, duplicam-se responsabilidades e deseresponsabiliza-se cada uma.
Aproveitar esta oportunidade e melhorar procedimentos é essencial. Assim como acelerar a execução das medidas de proteção das infraestruturas críticas europeias, cuja diretiva europeia de 2022 apenas foi transposta em março deste ano e a sua aplicação está apenas prevista para 2026.
Temos tido sorte, não sendo atingidos por grandes catástrofes naturais ou provocadas, como um atentado terrorista. Mas essa sorte tem também dado muito trabalho a todas as entidades que trabalham nestas áreas, sobretudo na prevenção.
Levar a proteção de todos mais a sério evita tragédias ainda maiores.