Citius, Altius, Fortius

Publicado a
Atualizado a

O título deste artigo reaviva um clássico lema olímpico. Em latim, o mesmo significa mais rápido, mais alto, mais forte. Foi adotado em em 1894 pelo Comité Olímpico Internacional e criado pelo Padre Henri Didon, amigo do Barão Pierre de Coubertain, o “pai” dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. Este princípio visa ainda hoje alcançar a ideia de superação e luta pela excelência, inspirando os atletas a superarem-se dia após dia.

A 30ª edição dos jogos regressa a Paris pela terceira vez, tendo a última acontecido há 100 anos (1924). Conta com 196 países participantes e algumas curiosidades. Para além de não ter tido qualquer prova antes da cerimónia de abertura (o que sucedeu pela última vez há 28 anos, em 1996), terá medalhas a ser disputadas em Paris e no Taiti, concretamente na praia da Teahupo’o, a maior ilha da Polinésia Francesa. Por fim, não tanto uma curiosidade mas sim um feito histórico, os jogos de Paris 2024 alcançaram a paridade de género em termos do número de atletas a competir.

Os jogos olímpicos são um momento de grande importância a nível desportivo mundial e não só: a competição das competições também é um espaço político e social. Afinal, compete ao desporto unir e cerzir as diferenças que por vezes os diplomatas e políticos não conseguem suplantar. Para além disso, são um relevante momento de aproximação entre os povos.

Talvez pelas vicissitudes acima descritas, Guterres aproveitou a abertura dos jogos para apelar aos países que “se unam com o mesmo espírito dos atletas”. Na cerimónia de abertura, o Secretário-geral da ONU lamentou o aumento dos conflitos a nível mundial e recordou que a primeira tentativa de paz real registada na história foi a Trégua Olímpica.

Nesse enquadramento da paz conferida pelo desporto, em novembro último, a Assembleia Geral da ONU adotou uma resolução no sentido da obtenção de uma trégua no período em que decorrem os jogos em Paris.

A capacidade de ultrapassar obstáculos dificílimos e da auto-superação, que leva a grandes feitos, faz com que o desporto, em todas as suas vertentes, capte a atenção e solidariedade coletiva. Esses sentimentos facilitam junto do grande público a percepção da excelência e do sofrimento dos atletas, que dão tudo para representar os seus países.

É precisamente nesse aspeto que reside a reflexão mais relevante. Desde sempre há atletas que participam para se superarem ou tentarem melhorar os seus recordes, ou do seu país, e há outros cuja participação encontra na vitória a sua principal razão.

O espírito dos atletas é uno: ser mais rápido, mais alto e mais forte, adaptando cada um o lema à sua realidade. E cada país também o faz. Há uma noção coletiva das dificuldades que cada atleta enfrenta em prova e daí advém uma certeza: o que move estes jovens atletas é sem dúvida a excelência, a superação pessoal e o fairplay pelo esforço de todos os seus adversários. Estes são, no fundo, os valores olímpicos da amizade e do respeito.

A base desses valores é um dos garantes que permite a junção de todas as nacionalidades num só evento, onde as divergências são postas de parte e a competição acontece de forma saudável apenas para celebrar o desporto.

Para nós, portugueses, 2024 não é o ano de maior representação olímpica, mas é sempre um momento de esperança em conseguir brilhar um pouco entre os melhores dos melhores. Todavia, na nossa longa história, o desporto tem sido uma paixão esquecida e, muitas vezes,

relevada para segundo ou terceiro plano. Por isso mesmo os nossos atletas olímpicos têm ainda mais valor. As suas conquistas acontecem por puro amor à camisola e nem sempre com as melhores condições para lá chegarem.

Um dia, gostaria de ver os portugueses nas olimpíadas, mas citius, altius, fortius, com um contributo real de todo o país. Fica uma questão: se as conquistas têm sido várias, que feitos poderíamos alcançar se os nossos atletas tivessem o apoio devido desde sempre? Tal como não desiste um atleta, assim não devemos desistir nós.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt