China e Europa: continuar com a intenção inicial das relações e iluminar juntas o mundo
No ano corrente em que se assinala o 50.º aniversário das relações diplomáticas China-União Europeia, o futuro das relações entre a China e a Europa atrai grande atenção a nível internacional. Ao longo dos últimos 50 anos, as relações China-UE resistiram às intempéries e demonstraram a sua forte resiliência. Pelo momento tão crítico dos 50 anos, será realizada em Pequim a Cimeira China-UE durante a qual as duas partes traçarão as perspectivas de cooperação para os próximos 50 anos.
A China e a UE são parceiros de ganhos compartilhados, tendo o benefício mútuo como pedra angular das suas relações. Ao longo dos últimos 50 anos, as cooperações China-UE passaram de poucas a muitas, de pequenas para grandes, tendo o volume das trocas comerciais crescido de 2,4 mil milhões de USD, aquando do estabelecimento das relações diplomáticas, para 780 mil milhões de USD e o volume dos investimentos crescido de quase zero para cerca de 260 mil milhões de USD. O número acumulado de comboios de carga China-Europa ultrapassou 10 000, passando por 227 cidades em 25 países europeus e mais de 100 cidades em 11 países asiáticos. Quer sejam produtos electromecânicos, quer sejam bens de primeira necessidade, os produtos chineses correspondem às necessidades diversificadas dos consumidores europeus, enquanto os produtos automóveis e de maquinaria da UE apoiaram fortemente a modernização industrial e o desenvolvimento económico da China. A cooperação China-UE floresce em domínios tão diversos como a ciência e tecnologia, a cultura e o intercâmbio pessoal. Ambas as partes aprofundam constantemente os setores como a inteligência artificial, a energia verde, a biomedicina, a indústria aeroespacial e outras tecnologias de ponta. Os intercâmbios culturais, as exposições de arte e os espectáculos musicais são bem acolhidos pelos povos da China e da Europa. A parceria preciosa entre a China e a UE não foi facilmente estabelecida, para a qual inúmeros antecessores envidaram grandes esforços, e merece ser apreciada. Hoje, 50 anos depois, os volumes económicos da China e da UE totalizam mais de um terço do mundo e a cooperação China-UE será ainda mais importante do ponto de vista estratégico.
A China e a Europa são amigas que procuram consensos e, ao mesmo tempo, acomodam diferenças, tendo o respeito mútuo como o princípio para manter as relações bilaterais. Como o filósofo europeu disse, “é impossível encontrar duas folhas de árvore que sejam absolutamente iguais”, há diferenças de histórias, culturas e valores entre a China e a Europa. A existência de diferenças é universal e não podemos considerar-se rivais devido às diferenças, nem procurar o confronto pelas discordâncias. Não há nenhum conflito de interesses fundamentais entre a China e a Europa, pelo que as duas partes devem privilegiar os pontos de convergência e respeitar as divergências. Eis um provérbio chinês: “Os cavalheiros procuram a harmonia em vez da conformidade”. Na vista da diplomacia chinesa que herdou esse pensamento de harmonia da antiga civilização, a UE é um dos pólos importantes no mundo multipolar e a China mantém a continuidade e a estabilidade da sua política em relação à Europa. Independentemente de a Europa estar a atravessar momentos bons ou difíceis, a China sempre apoia a integração europeia, congratula à Europa o reforço da autonomia estratégica e deseja que a Europa desempenhe um papel mais importante a nível internacional. Espera-se que a parte europeia respeite os interesses fundamentais da China e apoie continuamente o princípio de Uma Só China.
A China e a Europa são forças estabilizadoras num mundo conturbado e o multilateralismo constitui o seu máximo divisor comum. Na atual situação global cheia de mudanças imprevisíveis, as vagas de unilateralismo e hegemonismo estão a afetar seriamente a ordem e as regras internacionais. Quanto mais grave e complexa é a situação internacional, mais a China e a Europa precisam de reforçar a comunicação estratégica e atuar firmemente como forças estabilizadoras. Sendo duas grandes forças, dois grandes mercados e duas grandes civilizações, desde que a China e a Europa insistam no diálogo e cooperação, haverá mais factores positivos a favor da paz e estabilidade mundial, evitando uma nova “Guerra Fria” ou divisões ideológicas com base em valores. Desde que a China e a Europa insistam na abertura e ganhos compartilhados, a tendência da globalização económica não será invertida, possibilitando o desenvolvimento sustentável e a prosperidade comum. Desde que a China e a Europa insistam no multilateralismo e apoiem conjuntamente o mecanismo de governação multilateral baseada nas Nações Unidas, o mundo não ficará num caos.
Por um período de tempo, alguns amigos europeus têm certos mal-entendidos sobre o comércio China-UE, achando que os problemas da China, tais como o “excesso de capacidade produtiva” e o protecionismo comercial, estão a “prejudicar unilateralmente” a Europa no comércio, mas isso não é consistente com a realidade. O atual déficit da UE com a China resulta, essencialmente, do efeito complexo do ambiente macroeconómico, estrutura industrial, mudanças na demanda, condições de comércio internacional, entre outros fatores. Não se pode simplesmente atribuir as culpas a um lado. Os produtos europeus de alta tecnologia têm uma grande vantagem no mercado chinês. Tais marcas como Philips e Siemens ocupam, de maneira monopolista, o mercado de dispositivos médicos da China há mais de 30 anos. A participação de mercado da Airbus na China aumentou de cerca de 20% em 2008 para mais de 50% no presente. A UE também mantém o surplus comercial em serviços com a China por um longo tempo, com um surplus de até 50 358 milhões de USD no ano de 2024. Entretanto, nos últimos anos os Estados Unidos pressionaram a UE a bloquear a exportação de produtos de alta tecnologia, como máquinas de litografia, para a China, sendo uma das razões importantes do desequilíbrio comercial entre a China e a Europa.
A China sempre insiste na promoção constante da abertura de alto nível para o mundo exterior. Atualmente, o nível tarifário total da China já diminuiu para 7,3%. As medidas restritivas listadas na Special Administrative Measures (Negative List) for Foreign Investment já foram reduzidas de 190 para 29, tendo o setor manufatureiro já totalmente liberalizado. Os investidores europeus deveriam sentir isso mais profundamente. Eles demonstraram esse entusiasmo com investimentos concretos, promovendo um aumento de 11,7% no investimento europeu na China em 2024. A China sempre apoia o fortalecimento da cooperação aberta com a Europa. O Acordo Global de Investimento China-UE, sendo um acordo de alto nível, equilibrado, mutuamente benéfico e ganha-ganha, foi alcançado pelos dois lados ao longo de sete anos. Se o acordo for ratificado, ajudará a resolver de forma mais eficaz os problemas do acesso ao mercado chinês e da concorrência leal que preocupam os investidores europeus.
Este ano também marca os 20 anos da parceria estratégica global China-Portugal. Portugal é um importante parceiro estratégico da China na União Europeia, e os dois países têm desenvolvido intercâmbios e cooperações em vários domínios com base no respeito mútuo, igualdade e benefício recíproco, constituindo um bom exemplo de ganha-ganha entre países de dimensão, cultura e sistema social diferentes. Perante o novo ponto de partida histórico, acredito que Portugal continuará a desempenhar um papel ativo na UE, promovendo a amizade China-UE e beneficiando com a cooperação China-UE, e que conjuntamente contribuiremos para a paz e o desenvolvimento mundiais, criando um amanhã melhor para a humanidade.
Embaixador da China em Portugal