Carta aberta a António José Seguro

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Caro António José Seguro,

O Dr. Mário Soares, referência de todos nós, dizia — e escreveu — que um político assume-se. Ser político é, antes de mais, uma qualidade que nasce da responsabilidade cívica de qualquer cidadão. É uma expressão concreta do compromisso com o bem comum.

A política, entendida como missão, é participar nos destinos coletivos e saber assumir responsabilidades. Não se renega.

Por isso mesmo, contribuiu decisivamente para a minha reflexão — e para a decisão de apoio que tomei — o discurso de apresentação da candidatura presidencial e a forma como, com transparência e orgulho, foi assumido um percurso político. Sem disfarces, com verdade.

Ao longo dos anos, acompanhei com empenho várias campanhas presidenciais. Apoiei Manuel Alegre, reconhecendo-lhe uma voz cívica firme e inspiradora; estive ao lado de Maria de Belém, valorizando a sua luta incansável pela igualdade e pelos direitos sociais; e votei em João Ferreira quando entendi que a sua candidatura respondia a um momento particular da vida política nacional.

No Partido Socialista, onde milito há quase três décadas, mantive sempre a liberdade de apoiar internamente os candidatos que, em cada conjuntura, considerei que melhor interpretavam os desafios do partido e do país — mas, sempre com respeito pelos demais. Assim apoiei, de forma ativa e empenhada, as candidaturas de António Guterres, Ferro Rodrigues, Manuel Alegre, Francisco Assis, António Costa e de José Luís Carneiro. Acredito numa política feita pela positiva: com debate sério, propostas consistentes e respeito mútuo.

Por isso, fiquei positivamente impressionado com os sete compromissos que assumiu na apresentação da sua candidatura presidencial: justiça social e direitos humanos; defesa da democracia e do Estado de Direito; diálogo e concertação política; valorização da cultura, da ciência e da educação; compromisso com a sociedade internacional e com os direitos dos povos — incluindo a defesa da paz na Europa e em Gaza; políticas de valorização do trabalho; e a participação ativa de Portugal no centro da integração política europeia.

Estes compromissos demonstram fidelidade a princípios que estão inscritos na matriz fundadora do Partido Socialista e nos seus programas. Refletem também uma leitura atual da social-democracia contemporânea — exigente, solidária e europeísta.

Mas, numas eleições presidenciais, o fator individual e pessoal é determinante. O que relativiza a necessidade, ou não, de apoios expressos dos Partidos Políticos.

Foi Secretário-geral do PS e tem um percurso público exemplar. Em todos os cargos que desempenhou manteve uma postura de integridade e coerência. Qualidades que, para mim, são decisivas.

O meu olhar de autarca, e de antigo presidente da ANAFRE, reconhece que conhece profundamente o país real. Tem uma ligação autêntica às freguesias, aos municípios e às regiões que, demasiadas vezes, se sentem distantes dos centros de decisão. O percurso que tem feito para esta candidatura demonstra que sabe escutar — como sabem os autarcas — e valoriza as vozes que, com proximidade, constroem diariamente a democracia.

A função presidencial exige um compromisso inabalável com o cumprimento da Constituição da República Portuguesa. O António José Seguro tem demonstrado um profundo respeito pelos princípios constitucionais e pela legalidade democrática — sem abdicar da exigência ética. Num tempo em que se testam os limites das instituições, é essencial termos um Presidente que conheça a Constituição, a respeite e a faça respeitar.

Não o vejo a ceder ao populismo, nem a alinhar com modas transitórias. O seu percurso revela exatamente o contrário: seriedade, compromisso com a palavra dada e fidelidade aos valores da democracia portuguesa.

A Constituição não é apenas um texto jurídico — é um pacto social, cultural e político entre os portugueses. Ela garante liberdades, direitos e deveres que não podem ser relativizados por agendas que a pretendem desfigurar. A meu ver, necessitaremos de um Presidente vigilante, capaz de exercer com experiência o poder moderador, assegurando o equilíbrio entre os órgãos de soberania.

Para quem, como eu, fez da política um caminho de coerência, os compromissos que apresentou representam uma verdadeira aposta no futuro: uma candidatura que dignifica a função política, reforça a coesão nacional e oferece ao país a oportunidade de regenerar a confiança nas instituições.

Fiquei convencido que saberá unir os portugueses em torno da democracia — e por isso terá o meu apoio e o meu voto, na primeira e na segunda volta das eleições presidenciais.

Vereador na Câmara Municipal de Lisboa

Ex-Deputado da Assembleia da República (XIV e XV legislaturas)

Ex-Presidente da ANAFRE – Associação Nacional de Freguesias (2014–2020)

Primeiro Presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique (2013–2020)

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