Carlos Moedas não entende o cansaço dos lisboetas
Três anos é muito tempo. É tempo suficiente para os lisboetas começarem a dar, como têm vindo a fazer, sinais de desgaste com o estado em que se encontra Lisboa. É certo que muitos dos problemas com que a cidade se depara hoje já vinham do passado. Por isso mesmo, corriam o risco de se agravar, e agora está à vista de todos como isso aconteceu nos últimos 3 anos.
Falamos dos problemas mais comuns e correntes em qualquer cidade - questões estruturais, ligadas à qualidade de vida de quem nelas habita: o ruído, o lixo, a degradação do espaço público, a poluição, o trânsito (e o trânsito, e o trânsito e mais trânsito...), os transportes, a falta de arborização.
Já sobre habitação, e numa altura em que os lisboetas estão cada vez mais longe de conseguir casa em Lisboa, seria necessário um artigo à parte só para falar da falta de reação de Carlos Moedas. Tudo isto se agravou em Lisboa nos últimos 3 anos, em contraciclo com o que se vê em várias capitais europeias e mesmo noutras cidades portuguesas.
Todos nós, vereadores na Câmara Municipal de Lisboa, recebemos quase diariamente dezenas de queixas de moradores sobre o ruído, que impede o descanso noturno em certas zonas da cidade. Há já meses, apresentámos uma nova proposta para alterar o Regulamento Municipal do Ruído. Onde está ela? Certamente na gaveta de Carlos Moedas, como muitas outras que apresentámos ao longo destes 3 anos.
Muitas destas propostas do Livre continuam a aguardar agendamento para ir a reunião de câmara. E as que já foram aprovadas - algumas por unanimidade - ainda não foram executadas. Basta pensar na proposta do Livre relativa às “Veredas de Lisboa”, para a criação de caminhos mais verdes, abertos e seguros, através de uma renaturalização do espaço público que permitirá arrefecer a cidade e reduzir a poluição atmosférica.
Ou a das “Vias da Liberdade”, que visa transformar a mobilidade sustentável, promovendo ruas mais seguras e acessíveis, através da expansão da rede ciclável a eixos estruturantes e ligando ciclovias a escolas e a transportes públicos.
Ou a proposta de um “Programa Ecológico de Reabilitação dos Bairros Municipais”, para o reforço da resistência sísmica dos bairros, o conforto térmico e a poupança energética.
Mas apresentámos muitas mais, por exemplo, sobre a segurança rodoviária (“Zero mortes nas ruas de Lisboa”) ou, já depois de ter sido aprovada a da redução de velocidades também proposta pelo Livre, também sobre a melhoria da acessibilidade das pessoas com deficiência aos transportes públicos. Nem sequer os animais mereceram a atenção devida. Após ter sido aprovada por unanimidade, a proposta de um regulamento para o bem-estar animal tarda em concretizar-se.
Ou seja, nenhuma destas iniciativas do Livre mereceu qualquer ação política do Executivo de Carlos Moedas.
No que toca à limpeza e à recolha do lixo, o problema também não é novo e reflete igualmente o aumento da pressão turística dos últimos 3 anos - também nesta área, se multiplicam a cada dia as queixas dos moradores, com relatos de maus cheiros e de falta de higiene nas ruas.
Talvez aqui, a distinção europeia Lisboa Capital da Inovação 2024, que Carlos Moedas tanto refere, pudesse ter permitido lançar projetos-piloto para identificar novas maneiras de lidar com o lixo: com quase 900 cantoneiros ao serviço do município, dificuldades crescentes de contratar para estas funções e 900 toneladas diárias de lixo, só a inovação nos processos e rotinas poderia ter feito a diferença.
Mas apesar do desespero dos lisboetas com o aprofundamento de todos estes problemas, nunca se viu qualquer vontade política para os enfrentar, e para fazer da qualidade de vida uma missão do Executivo neste mandato. Agora é tarde. Lamentamos dizê-lo como vereadores e lamentamos também como lisboetas.
Há dias, nestas páginas, o presidente Carlos Moedas publicou um texto explicando como não pôde fazer tudo o queria em Lisboa porque, não tendo a maioria para decidir sozinho, os vereadores da oposição travaram sistematicamente as suas decisões - como que não lhe reconhecendo a vitória nas últimas Eleições Autárquicas, mesmo ao fim de 3 anos.
Ora, o estado a que Lisboa chegou parece ilustrar o oposto: é o presidente Carlos Moedas que parece não ter percebido que ganhou as eleições há já 3 anos e que deveria ter governado a cidade todo este tempo.