Campanha eleitoral. É melhor parar de atirar lixo para a ventoinha
É manifesto que nestas eleições há um deslocamento dos assuntos que mais interessa aos portugueses ver discutidos.
Luís Montenegro não cuidou de resolver, atempadamente, os eventuais problemas e conflitos de interesse que podem existir no contexto das porta-giratórias entre a política e os seus projetos empresariais. Isso tem trazido à campanha eleitoral um exagero de discussões à volta da anterior empresa do primeiro-ministro. E a campanha tem sido contaminada por isso. A Spinumviva tem ocupado um enorme espaço na campanha.
Por seu turno, Pedro Nuno Santos não teve o tempo e a oportunidade necessárias para surgir nos debates e na campanha na formatação de um verdadeiro candidato a primeiro-ministro. Ao terem sido antecipadas e precipitadas as eleições, esse facto, impediu Pedro Nuno Santos de realizar os Estados Gerais que estavam previstos e que lhe acrescentariam um programa de governo sólido, um conjunto de nomes, potencialmente, ministeriáveis e uma lógica política que lhe conferiria, em toda a sua dimensão, o figurino completo de um candidato a primeiro-ministro. O líder socialista está pois na campanha como um homem só, muitas vezes franco atirador, com sugestão de medidas avulsas, que não atingem o patamar para um projeto de poder alternativo ao da Aliança Democrática.
Para Luís Montenegro o incomodo vem da sua anterior atividade profissional, por não ter cortado célere todos os laços que o ligavam à sua empresa e por ter cometido erros de palmatória no domínio da comunicação. Quanto a Pedro Nuno Santos tem assumido, com postura enfadada, por vezes carrancudo, propostas avulsas que tantas vezes se auto descredibilizam com o historial dos governos socialistas nos últimos oitos anos.
Como pode o líder do PS falar de saúde, de habitação, de educação, de imigração, quando em oito anos de governos socialistas os problemas se foram acumulando e agravando sem que o PS tivesse encontrado soluções para os constrangimentos de que o país padece, há anos. O que andou o PS a fazer nestes oito anos?
Por seu turno Luís Montenegro conquistou o centro político ao PS. O Partido Socialista deixou enredar-se numa lógica política esquerdista. Pedro Nuno Santos está, sistematicamente, a criticar e a destruir as propostas da Aliança Democrática, sem apresentar uma argumentação construtiva baseada em novas propostas que os portugueses vejam como melhores e mais credíveis que as da Aliança Democrática. E que eu saiba a velha máxima de que as eleições se ganham ao centro ainda está atual.
A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) ao caso da empresa de Montenegro foi talvez o maior erro político de Pedro Nuno Santos. Montenegro tinha uma empresa e clientes públicos e privados. É advogado. Tinha um escritório de advocacia. Ganhava a vida com isso. Tinha (forte) expressão política no PSD, à época o maior partido da oposição. Usava a influência que tinha para conseguir contratos. Pois e daí? Há alegada corrupção? Se existe a Justiça que trate desse assunto. Há alegado tráfico de influências? Pois bem. Se assim é a Justiça que se pronuncie Há questões de ética no comportamento de Montenegro? Se existem os portugueses vão avaliar isso na solidão do seu voto. E não é necessário andar sempre a tocar a mesma tecla.
Os portugueses estão demasiado preocupados com os seus problemas imediatos. A pobreza, a habitação, a saúde, o emprego para os mais jovens, a imigração desregulada. É esta a agenda que interessa aos portugueses. Querem ver soluções para os enormes e estruturantes problemas da sociedade portuguesa que estão há anos por resolver. E o PS tem um lastro de oito anos numa confrangedora ausência na resolução dos grandes constrangimentos nacionais.
Mal ou bem a população portuguesa olha hoje para Montenegro como alguém que tem um projeto para o país, goste-se ou não dele, esteja-se ou não de acordo com os seus princípios ideológicos. Arrisco dizer que na atual lógica eleitoral interessa pouco à população como andou Montenegro a tratar da vida antes de chegar ao cargo de primeiro-ministro. Se mais não fosse, ainda que os casos tenham uma diferença abissal, basta olhar para o exemplo de Isaltino Morais, sem dúvida um dos melhores presidentes de câmara do país. Prevaricou, pagou à sociedade o que devia por essa prevaricação. Mas o trabalho que fez/faz em Oeiras, transformando-o num dos melhores, mais modernos e bem sucedidos municípios do país, deram-lhe de novo a vitória e a confiança dos munícipes. Os portugueses hoje dão mais importância aos resultados práticos que às questões de envolvência ética. Olha para o que faço, não olhes para o que eu digo.
Portanto, ainda é tempo para enfrentar esta campanha com boas e criativas soluções para os problemas do país. Corrigir o que está mal. Opinar sobre o que se entende serem as melhores soluções. O que fazer para resolver os estigmas que nos afligem. Para isso ajuda muito parar para pensar e deixar de atirar lixo para a ventoinha.
Jornalista