Caminhos que unem

Publicado a
Atualizado a

Os debates para as Eleições Europeias raramente se centram naquilo que foram os grandes objetivos desta construção e se encontram plasmados no Conselho da Europa. Poucos europeus sabem que, no ano anterior à formação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), cinco líderes europeus constituíam, em 1949, o Conselho da Europa, tendo como objetivo defender os Direitos Humanos, a democracia e o Estado de Direito. Importa recordar quem foram aqueles que pugnaram por esses valores que continuam a ser o princípio constitutivo do projeto europeu: Winston Churchill (Reino Unido), Konrad Adenauer (Alemanha), Robert Schuman (França), Alcide de Gasperi (Itália), Paul-Henri Spaak (Bélgica). Estes homens, que conheceram duas Guerras Mundiais em que os seus países foram inimigos, entenderam a importância do diálogo e de uma Europa da paz e dos valores.

O Conselho da Europa reúne atualmente 46 Estados-membros, o que vai muito além da Europa dos 27. É condição essencial para a adesão à União Europeia ter sido aceite no Conselho da Europa, o que já acontece com os países candidatos, como a Albânia, a Macedónia do Norte, o Montenegro, a Sérvia ou a Ucrânia.

Entre os projetos que o Conselho da Europa desenvolve e apoia com o objetivo de aprofundar o diálogo e o conhecimento entre os cidadãos, destaco as rotas e itinerários culturais que cruzam países e mostram como afinal as fronteiras são artifícios. Este programa foi iniciado em 1987 e reúne até agora 47 rotas e itinerários. Cada rota ou itinerário tem de reunir pelo menos três países, e o seu reconhecimento implica laboriosa investigação, muito trabalho técnico e vontade de colaboração, sendo um importante instrumento de valorização do património e incremento do turismo. Portugal integra 15 dessas rotas, como os Caminhos de Santiago de Compostela, a Rota Europeia do Património Judaico, o Itinerário das Cidades Termais Históricas, os Caminhos da Vinha ou a Rota da Oliveira.

Em 2011, a plataforma Pportodosmuseus.pt apresentou um estudo que identificou mais de 500 propostas de rotas e itinerários culturais. Na sua sequência, vários trabalhos têm sido desenvolvidos, reconhecendo a diversidade e riqueza do património cultural, enquanto importante recurso do país, cada vez mais procurado pelo turismo interno e externo, como bem sabemos.

Mas a geografia destas rotas e itinerários tem vindo a ser alargada a outros continentes, contribuindo para o desenvolvimento de mais comunidades e identificando os traços de uma história partilhada.

Hoje inaugura-se na Casa da América Latina em Lisboa uma exposição de têxteis do Paraguai (depois das mostras do México, Panamá e Peru). Reconhecemos com facilidade trabalho artesanal idêntico ao nosso, não apenas no têxtil, mas também na cestaria e na filigrana. O Instituto Paraguaio de Artesanato tem vindo a apoiar os artesãos para que a sua arte seja protegida, mas também rentável. A salvaguarda destas artes implica, por exemplo, o reconhecimento do trabalho manual (distinto das imitações industriais) como património cultural, ou a criação de condições para rotas turísticas (desde os caminhos aos transportes, à recuperação das casas, aos apoios logísticos e formação dos artistas) e, ainda, que sejam claros os mecanismos para um mercado justo.

Nestes dias, decorre em Cáceres um encontro que junta União Europeia, América Latina e Caraíbas, com participação de especialistas, partilha de experiências e conhecimento, que permitam apoiar a construção de rotas culturais e contribuir para o desenvolvimento das comunidades através de experiências e produtos turísticos sustentáveis. Neste contexto a OEI está a promover uma rede ibero-americana de rotas e itinerários culturais que junta continentes, a que importa associar a África.

Estou certa de que cada vez mais necessitamos de experimentar processos artísticos diversos e partilhados. Expressões artísticas entre a surpresa e o encontro. Formas simples de construir caminhos de paz e diálogo de que tanto carecemos.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt