'Brace for impact': o que pode Trump significar para a Europa
As chancelarias europeias passaram meses a preparar o I’ll be back de Donald Trump. Em abono da verdade ninguém sabe muito bem como se vai desenrolar. Mas há cenários possíveis, alguns aterradores. Esquecendo por momentos os impactos mais óbvios nos conflitos na Ucrânia e Médio Oriente, há razões válidas que provocam dores de cabeça de Lisboa a Berlim.
America First sintetiza, novamente, a abordagem de Trump ao comércio. O republicano prometeu, durante a campanha, “desglobalizar” e trazer de volta os empregos para os EUA, punindo amigos e inimigos com tarifas generalizadas de 10 ou 20% (e até 60% sobre os produtos provenientes da China), apesar dos avisos dos economistas sobre os reflexos negativos no crescimento económico dos EUA e o aumento dos custos para os consumidores. A política comercial de Trump está mais centrada na redução do considerável défice comercial dos EUA do que na abertura de novas oportunidades de mercado. Esta política será vista principalmente através da lente da segurança nacional e da geopolítica.
A abordagem à política comercial impacta diretamente na maior economia europeia e, por conseguinte, em toda a Europa.
Moritz Schularick, presidente do Instituto de Pesquisa económica de Kiel, alerta :“A vitória eleitoral de Donald Trump marca o início do momento económico mais difícil da História da República Federal da Alemanha.”
Para além da crise estrutural interna, a Alemanha enfrenta agora enormes desafios em matéria de comércio externo e de política de segurança, para os quais não está preparada. “Foi míope e irresponsável tornar a segurança alemã dependente de eleitores nos EUA, e isso está agora a ter o seu preço”, acrescenta.
O economista aponta um caminho: “Investir maciçamente nas capacidades de Defesa a curto prazo e liderar o caminho com a França e outros parceiros europeus dispostos a construir uma Defesa europeia. Os partidos democráticos na Alemanha devem unir-se e isentar os investimentos na Defesa do travão da dívida, para que a Alemanha e a Europa possam tornar-se capazes de agir geopoliticamente.”
Analistas do Goldman Sachs consideram que o euro pode cair até 10% em relação ao dólar, se a nova Administração adotar o seu plano de tarifas generalizadas, enquanto os lucros de um grupo das maiores empresas europeias podem decrescer mais de 5% no próximo ano. Trump apelou explicitamente a uma maior interferência da Casa Branca no funcionamento da Reserva Federal dos Estados Unidos, que fez da sua independência em relação aos políticos um cartão de visita. Isso poderia ter implicações enormes para a estabilidade do sistema financeiro global, bem como para a continuação do domínio do dólar como moeda de reserva mundial.
Além disso, recordam-se da gabarolice de Trump de que poderia “acabar” instantaneamente com a guerra da Rússia na Ucrânia? O que quer que a sua fanfarronice signifique - e ainda é cedo para o saber -, tem ramificações na Europa.