Bem hajam, Navarro e Miran

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De acordo com a ONG Human Rights Watch, só nos 100 dias iniciais do atual mandato, o presidente Trump já cometeu centenas de violações de direitos humanos, relativamente às quais correm nos tribunais federais mais de uma centena de ações judiciais.

 São especialmente preocupantes as políticas e os atos administrativos que constituem:

- ataques à liberdade de imprensa: Trump continua a criticar os “mainstream media”, apodando os seus jornalistas de “inimigos do povo” e questionando a veracidade das notícias que não lhe são favoráveis;

- interferência no sistema judiciário: Trump critica decisões judiciais que não lhe são favoráveis, questiona a imparcialidade dos juízes e sugere que eles estão motivados por viés político; é especialmente preocupante o não acatamento de decisões judiciais e acusações em torno da “inadmissível interferência” de juízes no exercício do poder executivo presidencial;

- abusos no combate à imigração ilegal, bem como em situações de asilo e refugiados, com violação de direitos constitucionais e internacionais;

- ataques a universidades e à ciência;

- redução de direitos sociais e laborais, na saúde, de proteção ambiental e das mulheres;

- ataque a mecanismos de discriminação positiva (DEI);

- abuso de poderes executivos excecionais, levantando questões sobre a constitucionalidade desses atos;

- manobras de intimidação de advogados.

Esses atos, bem como a propensão para o autoritarismo e a tentativa de colocar o Executivo acima ou à margem da lei neste início do mandato de Trump, colocam sérias preocupações sobre a saúde da democracia nos EUA e a capacidade de as instituições do país protegerem o Estado de Direito.

No plano económico, a incerteza e instabilidade geradas pelo aumento significativo das tarifas e as guerras comerciais e o risco de inflação e desemprego daí advenientes estão a provocar uma acelerada erosão das taxas de aprovação das suas políticas, de acordo com recentes sondagens (de 55 para 40%). Influenciado por esse “calhau com olhos” que é Peter Navarro (Musk dixit), Trump não vai desistir tão cedo de impor tarifas aos principais parceiros comerciais dos EUA. Por outro lado, tem ainda Stephen Miran a instigá-lo para que, “se outras nações quiserem beneficiar do guarda-chuva geopolítico e financeiro dos EUA, então precisam de dar o seu contributo e pagar a sua justa parte”.

Estes dois génios vão prolongar a incerteza económica, com uma queda séria no comércio internacional, aumento da inflação e do desemprego, e uma recessão; o que deverá reduzir mais as taxas de aprovação da governação Trump.

O fracasso económico e, sobretudo, a sua queda de popularidade, deverão levar o presidente americano a rever as suas políticas, incluindo algumas das que estão a promover a erosão do Estado de Direito.

Bem hajam, Navarro e Miran.

Consultor financeiro e business developer

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