Autárquicas 2025, o momento que ficará na história!
O próximo ato eleitoral, as eleições autárquicas do próximo dia 12 de outubro, será um momento marcante para a história da democracia portuguesa. Aliás, o ano de 2025 já trouxe mudanças inéditas (surpresas para alguns), com o resultado das Eleições Legislativas, mas poucos são os que, finda a primeira semana de julho, fazem – senão – apostas acerca do resultado final da noite eleitoral autárquica. O resultado certo em algumas praças-fortes é igualmente incerto noutras tantas, o que fará desta uma noite histórica: ora por dar expressão governativa ao partido de Ventura, ora por voltar a confiar no centro (seja à esquerda ou à direita).
Mas centremo-nos precisamente no partido que “lidera” a oposição ao governo de Luís Montenegro desde as eleições de 18 de maio. Desde a sua primeira candidatura passaram apenas seis anos: foi a 6 de outubro de 2019 que André Ventura chegou (sozinho) à Assembleia da República. As sucessivas Eleições Legislativas (três no espaço de três anos e três meses) permitiram um crescimento de um para os atuais 60 parlamentares – com a subida a verificar-se de forma gradual: 12, 50, 60 – à custa de votos que vieram um pouco de todos os restantes partidos e também de eleitores que nunca tinham votado.
Temos ouvido que as Eleições Autárquicas são, contudo, diferentes. E este é o momento de o comprovar. O resultado eleitoral de 12 de outubro será, para o Chega (e também para o Livre e a IL), uma prova de fogo, na medida em que representa a confirmação da sua implantação como um partido verdadeiramente nacional — ou não. Veja-se o caso do Bloco de Esquerda. Nunca foi um partido local. A sua presença a nível autárquico nunca teve expressão visível. Por outras palavras, e com números, limitou-se a conquistar apenas a Câmara de Salvaterra de Magos — e a perdê-la tão depressa quanto a venceu (para não falarmos do cenário das coligações, como a de Lisboa, em que Louçã acabou por romper com o PS e decidiu candidatar-se sozinho, entregando a câmara a Santana Lopes em dezembro de 2001, nos primeiros anos do Bloco de Esquerda).
Ora, é muito expectável que o Chega vença várias presidências de câmara a nível nacional e que (tal como a IL e o Livre) possa eleger mais autarcas locais do que tem atualmente. A questão é o que acontece depois. E aqui sou da opinião de que o Chega continuará a defender as suas posições (que recorrem ao instinto primário do ser humano), mas que, simultaneamente, assistiremos ao surgimento de uma força política ou movimento ainda mais à direita do que o próprio Chega — com credibilidade (ou seja, que ainda não existe) — e que, ao fazê-lo, contribuirá para a normalização do partido. Se repararmos, Ventura tem vindo a construir a narrativa de que ele é — e representa — a direita portuguesa, e de que tudo o que está à sua esquerda é “a esquerda”. Ou seja, põe todos os outros no mesmo saco.
O surgimento dessa nova força à sua direita permitirá, então, apontar o dedo ao verdadeiro extremo e obrigará todos a reconhecer que esses, sim, são os radicais. Essa normalização dar-se-á ainda pela via do exercício do poder autárquico, de proximidade, onde a prova de vida é essa mesma: ou faz, ou é igual aos que já lá estão. Esse “ser igual” tem aspetos negativos — sendo o maior deles passar a ser parte do “sistema” — mas tem, obviamente, um aspeto positivo: o de, afinal, não ser assim tão mau... uma vez que é igual aos outros. É nesta dicotomia que vive o Chega: as chamadas dores de crescimento. Que, sendo dores, com tudo o que de mau acarretam, são sempre preferíveis às de definhamento. E dessas, alguns não conseguem escapar. Lá diz o povo: “casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”.
Felizmente, em 2025 não há mais eleições. Infelizmente, 2026 começa com uma. É o preço da democracia. Vamos a isto!