Auditorias clínicas

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Já escrevi muito sobre o tema, de que na prática da medicina hospitalar moderna há uma enorme importância na relação entre escala e qualidade. Entre casuística, resultados e capacidade de formação. A importância da existência de Centros de Referência (CR) em determinadas áreas do saber médico, porque o tempo de todos fazerem tudo bem acabou há muito.

Mas atenção, não chega estarmos organizados em CR, é preciso auditar os resultados, torná-los públicos, para que os nossos doentes possam escolher com racionalidade e conhecimento os locais onde devem ser tratados. No nosso país pouco ou nada se audita, as competências apregoam-se, não se têm de provar.

No CR que criámos em 2005, nas doenças do fígado, vias biliares e pâncreas, fizemos sempre as nossas auditorias de qualidade a nível interno, publicitando e publicando regularmente os nossos resultados. Mas nunca fomos auditados por auditores externos e independentes.

Depois do Verão, em Portugal vão começar a ser auditados os CR já existentes, auditorias clínicas sérias, feitas por auditores preparados, um grande passo em frente na defesa da qualidade e da competência. Mas os resultados e as condições que são exigidas aos CR, para o poderem ser, devem ser iguais quer na vertente pública quer na vertente privada.

Em 2005, criámos o CR para tratamento das doenças HBP, e é apenas nesta área que nos tornámos competentes. Não garantimos sempre sucessos, assumimos com tristeza derrotas inevitáveis, traduzidas em mortalidade e morbilidades inevitáveis. Mas uma coisa vos digo: fora da nossa área não temos o direito de ter complicações e muito menos mortalidade.

Por exemplo, se assumíssemos o tratamento de um doente com um cancro do esófago, devíamos ser alvo de um processo disciplinar e até poder ser expulsos da Ordem dos Médicos. Fora das suas áreas de competência, os CR não têm o direito de errar, pura e simplesmente porque não têm o direito de querer tratar.

Os meus parabéns à SIC e ao Francisco Goiana da Silva, um jovem talento na área da Saúde, o primeiro comentador apenas de saúde em canais televisivos em Portugal. Não um comentador de casos e casinhos, uma voz fora de lógicas partidárias ou ideológicas. Tenho a certeza de que em breve o ouviremos a comentar os CR e a importância que, de facto, têm na qualidade da medicina hospitalar do nosso SNS. Tal como na sua última intervenção, chegou a abordar a possibilidade de se terem de encerrar algumas Urgências.

Vai ser muito bom ter semanalmente um comentador especialista em saúde, jovem, competente e independente.

Força Francisco, não vais ser auditado mas, prepara-te, os até agora “donos” do comentário vão reagir.


Escreve com a antiga ortografia

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