As preocupações dos portugueses e o sucesso da desinformação
A economia familiar/nacional surge, sem surpresa, no topo das preocupações dos inquiridos do barómetro DN/Aximage, publicado nesta edição.
Idêntica tendência nos tinha dito o eurobarómetro publicado pela Comissão Europeia, em dezembro passado, de acordo com o qual para 43% dos portugueses, o aumento dos preços/inflação/custo de vida é um dos problemas mais importantes do país. Seguiam-se a saúde (citada por 36%) e a habitação (28%).
Nessa sondagem, cujos inquéritos foram feitos em outubro de 2024, a imigração, tal como o crime, o ambiente e alterações climáticas, a situação internacional, a dívida pública e a energia eram menos referida pelos nossos cidadãos do que pela generalidade dos outros europeus.
Por exemplo, apenas 10% considerava que a imigração era um dos principais problemas do país (contra 20% da média europeia), ainda assim com um aumento bastante significativo em relação ao período anterior (6%) e ainda mais em relação ao ano anterior, no qual só 3% dos inquiridos em Portugal olhavam a imigração como um problema.
Ora o que nos vem dizer o barómetro que agora publicamos é que 41% dos portugueses escolheu a imigração como um dos temas de preocupação, a seguir ao da corrupção (45%) e ao da economia familiar/nacional.
Em quarto lugar neste “top5” de preocupações estão as pensões (27%) e, por último, o investimento em defesa nacional (16%) - este último, por sinal, com presença assídua nos debates para as legislativas entre os líderes partidários, ao contrário do que aconteceu na campanha das últimas eleições para o parlamento.
“Agora que irá ter início a campanha eleitoral, para além das questões de saúde e habitação, que interessam a todos nós, pessoalmente, quais dos temas gostaria de ver debatidos”, foi a questão colocada aos participantes desta sondagem, sendo solicitado que indicassem os dois temas que considerasse mais importantes.
Mesmo com esta salvaguarda e sendo, certamente, a base da amostra diferente da do eurobarómetro, o destaque dado à imigração, bem como à corrupção, tem uma leitura evidente.
Como temas bandeira do Chega, só pode ser o resultado da sua comunicação eficaz para chegar aos portugueses. Demonstra ainda que é uma ilusão pensar que acusar o partido de desinformação, mesmo apresentando factos que contradigam os estigmas que propaga em relação aos imigrantes, terá algum resultado.
Sabemos que as inclinações das pessoas quando respondem a estas sondagens são influenciadas pelo espaço mediático e com o que está na ordem do dia, sendo que a imigração, tal como o Chega e o seu líder André Ventura, o ocupam muito frequentemente.
O que estará, então, a falhar, da parte dos dois maiores partidos em dar resposta a esta inquietação dos portugueses? Olhando para os programas eleitorais existe até uma aproximação do PS à visão da AD, visando uma imigração regulada, controlada, numa tentativa de corrigir os erros do passado que levaram à atual situação.
Mas não é de um dia para o outro que tudo se resolve e o interesse mediático tem pouca tolerância para o que não é imediato.
Digamos que é preciso insistir na informação rigorosa, no combate à desinformação e, da parte das autoridades/governo prevenir e evitar tudo o que sejam situações que possam fomentar as narrativas extremistas, como a que sucedeu no passado fim-de-semana: um requerente de asilo iraquiano, de 28 anos, ter tido oportunidade de apedrejar uma esquadra de polícia e esfaquear um chefe da PSP. Aconteceu em Braga.
Um requerente de asilo não está limitado na sua liberdade, mas esta não se pode sobrepor à segurança dos outros. Há avaliações de risco que podem e devem ser feitas. Se a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) não tem, e bem, essa competência, seja criado outro mecanismo que as preveja. Para que não paguem todos por um.
Diretora Adjunta do Diário de Notícias