Para muitos casais, as férias são um terror. Porque há muito que deixou de existir intimidade física e emocional, há muito que se distanciaram, há muito que vivem vidas paralelas. Pois é, as férias são mesmo um ótimo barómetro da qualidade da relação de casal. Na correria do dia a dia, entre a casa, o trabalho e os filhos, as rotinas e os horários a cumprir, muitos casais perdem-se enquanto tal. Os papéis profissional e parental sobrepõem-se ao papel conjugal, as prioridades invertem-se e a conjugalidade acaba por ser, progressivamente, desinvestida. Muitos casais deixaram também, há muito, de dormir na mesma cama ou no mesmo quarto. Vivem sob o mesmo teto, é verdade, mas apenas por causa dos filhos, das aparências ou, ainda, porque não existe capacidade financeira para suportar os custos de duas casas. Esta é a verdade dolorosa que muitas famílias vivem de forma encapsulada, escondida, às vezes até envergonhada. Chegadas as férias, tudo muda. Acaba a escola dos miúdos e os horários a cumprir, visitam-se familiares que vivem longe. Em casa, as horas parece que se arrastam. Marcam-se hotéis em que todos partilham o mesmo espaço. Neste contexto, olha-se para dentro e percebe-se que aquilo que existia está moribundo. Em algumas situações, está mesmo morto. Apenas não está enterrado. Perante isto, há casais que continuam a fazer de conta que está tudo bem, quase em contagem decrescente para o regresso às rotinas e à ocupação, que tão bem mascaram os problemas. Outros decidem que é mesmo a hora de seguirem caminhos diferentes e, por isso, temos tantas decisões de separação que são tomadas durante o período de férias. Resta um terceiro grupo de casais – os que decidem deixar de fingir e encarar os problemas de frente, pedindo ajuda especializada, se necessário for. Estamos em época de férias e é natural que alguns barómetros anunciem demasiada pressão. É sinal de que algo precisa ser melhorado. Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal