Alexandre, o grande Ensino Superior
O economista Fernando Alexandre, ministro da Educação, Ciência e Inovação, tem de contrariar rapidamente a ideia de que o Ensino Superior foi remetido para segundo plano - é que a acontecer, seria um colossal comprometimento do futuro do país e do futuro dos jovens.
Tirar autonomia ao Ensino Superior tem sido amplamente apontado como um erro, juntando-o à tutela do Ensino Público, que se depara com problemas crónicos. Mas já lá vamos. Até porque piscar os olhos aos jovens adultos, que se preparam para entrar no mercado de trabalho, não passa apenas por criar um Ministério da Juventude e da Modernização, onde a jurista Margarida Bolseiro Lopes, a mais jovem do Governo de Luís Montenegro, com 34 anos, será responsável também pela transição digital - transição esta que tem deixado muito a desejar na Escola Pública. Como se vê, o impacto da governação no ensino em Portugal está dependente de muitas visões do problema.
Muitos dirão que é cedo para falar, enquanto não conhecermos a composição das Secretarias de Estado, onde se presume que haverá uma dedicada ao Ensino Superior e Tecnologia, eventualmente. Mas acima de tudo, o importante é que Fernando Alexandre terá a responsabilidade de enquadrar o Ensino Superior nas reais necessidades do país e de dar esperança aos jovens, que, em grande número, quando terminam uma licenciatura ou mestrado começam logo a pensar em emigrar. Voltamos sempre à questão da geração mais qualificada de sempre e mais mal paga - e já agora, com um problema de habitação gravíssimo pela frente.
Perdoem-me a expressão, mas não dá para “meter o Rossio na Rua da Betesga”. O ensino não é todo igual. Ainda que Fernando Alexandre tenha razão ao ver a Educação como “a grande esperança para ter cidadãos mais informados, mais exigentes, mais criativos, mais resilientes e com maior capacidade de criação de riqueza”, citando o Expresso. Mas cabe ao Estado criar riqueza (que é um bem público), reter talento nacional e atrair estrangeiro, reforçando a capacidade das empresas em investir na qualificação dos seus quadros, de estimular a economia para se pagarem melhores salários, de políticas de acesso à habitação e da melhoria das condições para os jovens formarem família. É nisto que Governos anteriores têm falhado.
Os cursos superiores, a ciência, investigação, tecnologia e inovação têm de estar de mãos dadas no investimento no Ensino Superior. A sociedade está a evoluir tão velozmente que as universidades terão de acompanhar em tempo real. Esta reflexão é permanente, exige capacidade para discutir e aplicar verbas na melhoria da nossa competitividade - não na exportação de talento.
Voltando à Escola Pública, o novo ministro da Educação tem como missão travar os protestos e o descontentamento dos professores . Não investir nos professores, é descapitalizar uma carreira basilar na construção de um país que se pretende informado e qualificado. Fernando Alexandre não pode ter a ambição de ser um gestor empresarial, o maior erro que se tem cometido nos últimos anos na Educação é o da desvalorização dos recursos humanos.
Diretor interino do Diário de Notícias