O dia 1 de maio de 2004 é uma data incontornável no calendário da construção europeia, com a adesão à União de 10 países da Europa Central e de Leste, e das ilhas de Chipre e Malta. Poucos anos antes, muitos desses países estavam do outro lado da Cortina de Ferro e alguns deles faziam parte da extinta União Soviética. No dia 1 de maio de 2004, a Europa ficou mais unida e completa..O facto de celebrarmos este 20.º aniversário do alargamento da União poucos dias depois de Portugal assinalar os 50 anos do 25 de Abril adquire um significado particular. O derrube da ditadura portuguesa esteve na origem de uma vaga de democratização que transformou o Sul da Europa e abriu o caminho que conduziria anos mais tarde à adesão da Grécia, de Portugal e de Espanha à Comunidade Económica Europeia. A integração, em 1986, da então jovem democracia portuguesa na família europeia foi decisiva para a consolidação irreversível dos valores da liberdade, celebrados há poucos dias por milhares de portugueses..Tal como os portugueses, também os cidadãos de Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia e República Checa encontraram na Europa a promessa de que podem ser dono do seu próprio destino. Encontraram a promessa de liberdade e estabilidade, de paz e prosperidade. Hoje, podemos dizer que essa promessa foi cumprida..Nem sempre foi fácil. Os novos Estados-membros tiveram de se adaptar a novas regras em todos os setores e tiveram de fazer face a uma concorrência acrescida. Alguns setores nos Estados-membros pré-existentes também tiveram de se adaptar. A União Europeia dispõe por isso de vários fundos e instrumentos de apoio, incluindo os fundos de coesão, para assegurar a equidade e amortecer estas mudanças, para garantir que ninguém fosse deixado para trás. Dados do mais recente Eurobarómetro revelam que quase nove em cada dez portugueses (88%) concordam que Portugal beneficiou com a adesão à União Europeia, um nível de satisfação bem acima da média europeia (71%)..Chegados a 2024, celebramos o passado com os olhos postos no presente e no futuro. Hoje, o desejo de continuar a unir a Europa e de completar a nossa União é mais importante do que nunca. Os Balcãs Ocidentais estão cada vez mais próximos de nós e tomámos a decisão histórica de iniciar negociações com a Ucrânia e a Moldávia..O alargamento é do interesse estratégico da própria União e pode e deve ser, como disse a presidente von der Leyen no seu discurso sobre o Estado da União, um “catalisador para o progresso”. No contexto da invasão da Rússia contra a Ucrânia, o alargamento é, mais do que nunca, um investimento na estabilidade e na segurança a longo prazo em toda a Europa. É indispensável que tanto a União como os futuros Estados-membros estejam bem preparados para continuar a fazer avançar este processo, pois a adesão de cada país candidato continuará a assentar no mérito, totalmente dependente do progresso alcançado por cada país. Neste contexto, a promoção da democracia, do Estado de Direito e dos direitos fundamentais são valores intransigíveis para a União Europeia..A perspetiva de um futuro alargamento coloca desafios, mas também inúmeras oportunidades, tanto para a Europa, enquanto ator global, como para Portugal. E continua a transportar e a alimentar a promessa de uma Europa assente em valores, mais próspera e segura, em que o todo é muito mais do que a mera soma das partes, pois só juntos somos mais fortes.