“A vida aqui é melhor. Muito melhor!”
Razões profissionais levaram-me a passar quase uma semana na encantadora cidade de Barcelona.
Podia referir os milhares de turistas das mais variadas origens que desfrutam da cidade. Ou aos seus habitantes que alegremente convivem nos múltiplos e diversificados espaços que a cidade proporciona. Claro, as ramblas e a sua animação e o sempre cheio e atractivo Passeio da Graça.
Porém, não é disso que quero falar.
Chegados ao hotel, localizado no centro da cidade, somos gentilmente acolhidos. Curiosamente uma das responsáveis era portuguesa. E que bem que sempre sabe ouvir a nossa língua quando estamos fora, mesmo que portugueses e catalães se entendam facilmente.
Bom, havia que arrumar as malas e partir à descoberta da cidade. Também o jovem que ajudava nessa tarefa era um português que, com grande profissionalismo, desempenhava a sua função.
Partimos à descoberta da cidade, calcorreámos quilómetros, visitámos o que sempre todos visitam e depois de um retemperador jantar regressámos ao hotel.
Uma noite bem dormida na expectativa de um retemperador pequeno-almoço.
E assim foi. Mas …
Sentados para o pequeno-almoço somos atendidos por uma jovem portuguesa que, perguntada se gostava de estar em Barcelona, nos respondeu:
“Gosto muito do meu país, gosto muito de Portugal.
Mas, a vida aqui é melhor. [e enfatiza] Muito melhor!”
Os doces do pequeno-almoço passaram a amargos, o sumo de laranja ficou ácido, à alegria de encontrar mais um português sobrepôs-se uma certa angústia, as dúvidas, muitas, instalaram-se e ficámos emudecidos perante a limpidez da resposta.
Veio-me à memória uma notícia recente que dizia que os jovens portugueses estão a ficar mais tempo a ganhar o salário mínimo e que 13% dos jovens portugueses é com esse salário que entram no mercado de trabalho e que mais de 50% deles assim se mantém no ano seguinte à entrada no mercado de trabalho.
De que vale dizer que temos a geração melhor preparada de sempre se a desperdiçamos, um pouco por todo o mundo, um pouco por todas as profissões, porque nesses destinos a que, quais peregrinos, parecemos condenados a para sempre percorrer, “A vida é melhor. Muito melhor!”
Agora que todos fazem simulacros ruidosos de discussão sobre a imigração, disfarçando hipocritamente o preconceito e a ignorância, talvez fosse mais útil debater a nossa emigração. Não a dos anos 60 do século passado, sempre anunciada como uma gesta de coragem quando, de facto, foi uma fuga de um povo analfabeto e famélico. Fuga à pobreza , à fome e à guerra.
Discutir a emigração actual é discutir o investimento perdido, a nossa incapacidade de criar e distribuir riqueza, a impossibilidade de ocuparmos soberanamente e desenvolvermos os nossos territórios.
A nossa crescente impossibilidade de os avós verem crescer os netos, porque, lá longe, “A vida é melhor. Muito melhor!
Advogado e gestor