A Ucrânia e as terras raras: o garimpeiro Trump e a nova corrida ao ouro
Éprovável que, à hora a que o Diário de Notícias chegar às bancas esta sexta-feira, Volodymyr Zelensky esteja a aterrar em Washington para assinar um acordo de cooperação com os Estados Unidos para a exploração das terras raras existentes na Ucrânia.
Mas qual a validade e exequibilidade deste acordo? Qual o significado de assinar um acordo num país em guerra?
Ainda não é, totalmente, conhecido o teor deste acordo. Em traços largos, e por pressão de Trump, os Estados Unidos ficarão como direito a explorar 50 por cento das terras raras existentes na Ucrânia como contrapartida dos valores gastos por Washington na apoio ao esforço de guerra da Ucrânia.
Todavia este acordo parece ser mais uma operação de propaganda, interna e externa, de Trump. Que consistência pode ter um acordo sem que seja conhecido o seu financiamento? Onde está a rede logística para escoar o produto resultante da exploração das terras raras? Onde estão as condições de segurança para essa mesma exploração, quando se sabe que 40 por cento das terras raras da Ucrânia estão em território ocupado pela Rússia, nomeadamente, no Donbass e Luhansk.
Com este acordo Trump coloca em cima da mesa o primado da economia, com o “ouro” do século XXI que são as terras raras. Procura, assim, diminuir a enorme dependência que Washington tem da China nas suas necessidades de terras raras. De facto 80 por cento das terras raras usadas pelos Estados Unidos são provenientes da China. Este acordo está, pois, na linha de atuação de Trump, procurando robustecer a economia norte-americana face à República Popular da China.
Relativamente à componente de segurança, absolutamente necessária para que o acordo tenha uma eficácia prática, está em cima da mesa a possibilidade de tropas europeias na Ucrânia. Fala-se de três países europeus que poderiam materializar essa instalação de Forças Armadas: cerca de 30.000 soldados colocados em infraestruturas sensíveis, como centrais nucleares ou pontos logísticos. A linha da frente de combate seria vigiada por drones, sendo que os meios aéreos necessários ficariam estacionados na Polónia e na Roménia.
França, Alemanha e Reino Unido estão disponíveis para colocar botas no terreno. Mas aqui existe uma contradição entre o que dizem Trump e Putin. Enquanto o primeiro afirmou que a Rússia aceitaria a permanência de Forças Armadas, supostamente de paz na Ucrânia, Putin apressou-se a enviar recados ao Ocidente reforçando a proibição de Forças Armadas em território ucraniano. Veremos como as coisas vão acontecer no futuro.
Mas afinal o que são estas terras raras que suscitam, com tanto entusiasmo, o novo garimpo de Donald Trump? As terras raras são um conjunto relativamente abundante de 17 elementos químicos, 15 deles pertencentes ao grupo dos lantanídeos, que incluem minerais como monazite, bastnasite, xenótimo e as argilas lateríticas que absorvem os iões. São de uma importância extrema e absolutamente indispensáveis para a produção de turbinas eólicas, baterias de automóveis, e até mesmo necessárias na produção de centrais nucleares.
O Centro Geológico dos Estados Unidos estima a existência de cerca de 110 milhões de toneladas de terras raras em todo o mundo.
Por enquanto as terras raras não escasseiam, mas a procura é já bastante intensa e há uma concorrência das potências mundiais pelo controlo das reservas de terras raras.
A União Europeia estima que, para dar continuidade aos seus projetos comerciais, muito em especial para materializar a neutralidade carbónica, venha a necessitar de uma quantidade 26 vezes maior de terras raras do que gasta atualmente.
A Ucrânia possui no seu território uma reserva de terras raras materializadas em 22 dos 34 minerais identificados pela Comissão Europeia.
Mas a Ucrânia está longe de ser a maior fonte de terras raras no mundo. Depois da China, o maior produtor, surge o Vietna- me com uma existência de 22 milhões de toneladas, seguido pelo Brasil, com 21 milhões, a Rússia, com 10 milhões, e finalmente Índia, com 7 milhões.
A importância que este “ouro” do século XXI está assumir nos novos desafios económicos justifica a atitude de Trump de arregaçar as calças e partir para o garimpo na Ucrânia.
Jornalista