A política tem de servir para honrar o país
Não esteve ontem em causa a política do governo. Essa o LIVRE combate todos os dias no parlamento e fora do parlamento porque sabemos que um outro país é possível. O LIVRE votou contra o programa do governo no início desta legislatura e o tempo veio comprovar a razão desse voto – o preço da habitação continua a aumentar, o SNS está a viver um desmantelamento, foi aprovada uma alteração à lei dos solos que põe em causa o futuro do país, entre tantos outros exemplos.
Não, o que esteve ontem em causa é a confiança – ou melhor – a falta de confiança institucional no Primeiro-Ministro. E esta falta de confiança resulta apenas e só da atuação do Primeiro-Ministro, que, confrontado com a atividade da sua empresa familiar, optou por não prestar todos os esclarecimentos ao país, aos jornalistas, aos partidos e optou por não esclarecer como são geridos no governo os conflitos de interesse, pedindo-nos que confiemos no seu julgamento.
Mas não é apenas por isso que temos falta de confiança institucional no Primeiro-Ministro. Num problema que é exclusivamente seu, e que cabia apenas a Luís Montenegro resolver, o Primeiro-Ministro socorre-se de todo o governo, que o acompanha na declaração que fez ao país, e de vários ministros que o defendem em vários canais televisivos logo após a declaração ao país. Este arrastar do governo para o seu problema pessoal e político mostra a falta de sentido de salvaguarda da democracia e da política, principalmente grave num momento de polarização e de tentativas deliberadas de ataque aos sistemas democráticos e às instituições democráticas, o que reforça ainda mais a falta de confiança institucional.
Mas há mais uma razão para a falta de confiança institucional no Primeiro-Ministro e que é, talvez, a principal: Luís Montenegro não tem estado à altura do momento internacional que vivemos. Portugal tem estado ausente dos principais momentos internacionais das últimas semanas, numa altura em que toda a dinâmica se tem alterado e são palpáveis os riscos que uma administração Trump representa para o mundo. Luís Montenegro não esteve na cerimónia dos 80 anos da libertação de Auschwitz, não esteve em Londres no encontro de líderes europeus com Zelensky (e que aconteceu logo após o episódio de bullying que Zelensky sofreu na Casa Branca), não esteve no dia 24 de fevereiro em Kiev – no mesmo fim de semana em que esteve a jogar golfe com o dono da Solverde. Nunca é o momento para estar ausente das questões internacionais mas agora é inadmissível que Portugal não esteja, ativamente e publicamente, a participar no debate sobre a autonomia, a segurança, a soberania europeia e a posicionar-se pelas alianças necessárias com países democráticos e progressistas noutros continentes.
Por tudo isto, o LIVRE votou a favor da moção de censura e votará em conformidade na moção de confiança que o governo, finalmente, anunciou. O Primeiro-Ministro escolhe, conscientemente, arrastar o país para uma crise política absolutamente desnecessária e que é apenas da sua responsabilidade. Tudo faremos para que o país saia rapidamente desta crise, de cara levantada, e trabalharemos para o país que sabemos ser possível.
Líder parlamentar do Livre