A Associação Business RoundTable Portugal (BRP) está quase a comemorar o seu quarto aniversário, tempo para um balanço. Este é oprimeiro de dois artigos complementares. Esta semana abordo a génese e missão da BRP e os trabalhos mais relevantes realizados e na próxima semana fecho com uma avaliação dos resultados destes quatro anos, sugestões para aproximar ações e recursos da missão e possíveis cenários a longo prazo e respetivas implicações. Em Julho de 2021, 42 gestores de topo (na sua maioria empresários) das maiores empresas e grupos empresariais nacionais assumem partilhar a frustração com o fraco crescimento da economia nacional e o sentido de dever contribuir para acelerar esse crescimento, atuando sobre a competitividade do sector empresarial privado. Como resultado “deste inconformismo e profundo desejo de mudança”, nas palavras de Vasco de Mello, nasce a Associação Business Roundtable Portugal (BRP) com a missão de mobilizar as competências dos Associados e concretizar a ambição comum, trabalhando sobre diferentes eixos e programas centrados na aceleração do crescimento do País através do aumento da capacidade de contribuição económica das empresas. A mobilização das empresas fundadoras, o calibre dos seus representantes, a criação de uma estrutura profissional forte agregadora dos contributos das empresas associadas e naturalmente a ambição da sua missão surge como algo de completamente novo em Portugal, como um dia de sol a seguir a semanas de chuva. Uma ressalva: a Associação apresenta-se com um painel de promotores de grande gabarito mas questiono se um grupo exclusivo de empresários não teria outra força institucional.Apesar das naturais dificuldades de mobilizar tempo dos líderes e recursos dos Associados, que o próprio Secretário Geral da BRP assumiu recentemente, a equipa operacional da BRP tem conseguido criar programas meritórios como o Metamorfose ou as sessões “CEO com CEO” onde um líder Associado da BRP se abre a um plateia de empresários para partilhar a sua experiência e deixar recomendações como, por exemplo, desenvolver novos mercados. Mas ainda se está no começo, é preciso ir muito mais longe.A 30 de Outubro publiquei um artigo no ECO, “Criar mais grandes empresas não é fácil mas tem de ser feito”, onde constatei que as grandes empresas são o motor do crescimento económico mas que a sua importância em Portugal está cada vez mais abaixo da média europeia. Demonstrei que em Portugal a escala das PMEs portuguesas e o seu crescimento está na cauda da Europa e o atraso na construção de escala é cada vez maior, concluindo que a chave da aceleração do crescimento da economia passaria por transformar em grandes as médias empresas.A Associação BRP já chegara à mesma conclusão e começado a trabalhar em duas frentes : fortalecendo competências para acelerar o crescimento orgânico (o trabalho que está a começar a ser feito em governance no Metamorfose é disso exemplo) ou promovendo operações de M&A nas quais pelo menos um dos corpos acionistas mantivesse o controlo. É este o cerne da missão da BRP. Por isso, todos os programas e atividades têm de estar focados nesta missão já que a Associação será julgada pela qualidade da sua contribuição através dos resultados concretos que atingir no cumprimento da sua missão. E esse julgamento caberá não só aos Associados mas sobretudo à própria sociedade, consciente da ambição da BRP através da enorme visibilidade que a Associação construiu nos seus primeiros anos de atividade. Para isso é preciso ter métricas para estabelecer e medir os resultados. A Associação tem feito um trabalho notável de agregação e disponibilização de dados estatísticos mas peca pela ausência de KPI´s e de métricas para avaliar os seus próprios resultados. Mas isso é possível? Claro que sim. A Associação tem uma excelente estrutura profissional preparada para o fazer e não é um desafio demasiado complexo. A título de exemplo, publiquei no Diário de Notícias em 22 de Novembro uma análise muito simples para quantificar, de forma focada e pragmática, o problema da escala das empresas nacionais. Nesse trabalho, incluido no meu livro “44,250 Passos para o Cume” para quem queira ver o assunto mais em detalhe, concluo que a escala das PMEs portuguesas e o seu crescimento em direção ao escalão das grandes empresas está na cauda da Europa e o atraso na construção de escala é cada vez maior: nas quatro maiores economias europeias bastavam 26 a 27 empresas para criar 10M€ de PIB, enquanto que Portugal precisava de 35,8. Este indicador muito simples coloca-nos na 16ª posição da UE 27, abaixo da média e muito atrás de países improváveis com população próxima ou inferior à nossa.Não há dúvida que a criação da Associação com a mobilização que conseguiu agregar foi por si só um feito notável. E agora, passados quase quatro anos, como podemos avaliar o desempenho da BRP e que sugestões podemos deixar para que os próximos cinco venham a coroar de glória uma iniciativa demasiado importante pata Portugal para ficar aquém das expetativas ? (Continua na próxima semana)Empresário, Gestor e Consultor