Está a chegar o dia em que vamos escolher os mesmos para governar o país. E quando digo os mesmos não digo o PS ou o PSD, digo os mesmos! Esses mesmos, os do costume, pouco importa a cor e o nome..Decidi ler a fundo o "Programa 2030" que o governo propõe para inovação e desenvolvimento do nosso país. O programa tem oito vetores dos quais destaco o que me parece ser o mais relevante, aquele que diz que o governo vai "assegurar as condições de competitividade empresarial e o desenvolvimento da base científica e tecnológica nacional para uma estratégia sustentada na inovação"..Isto começa mal... contei por 69 vezes a palavra inovação e apenas uma a palavra design. O que se lê nas entrelinhas é que o país não precisa de design. Mas precisa de inovação? Inovação sem design? Inovação sem criar coisas novas? É possível? Ou será que poucos saberão o que verdadeiramente significa inovação?.Creio que continuamos a pensar como se pensava na primeira metade do século XX, da forma como Joseph Schumpeter definiu como os ciclos económicos se deveriam desenvolver, reforçando acima de tudo a importância dos empresários e da inovação. Lá está... da inovação. Mas qual inovação?.Quando dou comigo a equacionar tudo o que está à nossa volta e do que depende o desenvolvimento do país - e por país leia-se pessoas, empregos e bem-estar - dou-me conta de que estamos perante um documento que é uma apologia, quase consensual, da "destruição criativa", que no meu entender é o conceito essencial do capitalismo, veiculado por Schumpeter. Ora veja-se, segundo Schumpeter, a inovação refere-se às ações que os empresários podem imprimir para reduzir custo na produção e aumentar a procura dos seus produtos. Mas... e que produtos? Que serviços?.Matámos a agricultura e a indústria. Isto é certo! Virámo-nos para os serviços e para a dita "inovação", palavra que todos dizem e que aposto que poucos (ou nenhum) sabem o que verdadeiramente significa. E pasmem-se, inovar não é manipular um ficheiro Excel com objetivos, tarefas e responsabilidades. Não! Cada vez que se fala em inovação, deveríamos falar de resolução de problemas. Deveríamos estar a falar de design, seja em que dimensão for. Visual, mecânica, biológica, tridimensional, tangível, tecnológica, seja ela qual for. Falar de inovação sem falar de design, melhor, sem apostar no design , é só palerma. Herbert Simon definiu design, já nos anos de 1960, como "a procura de caminhos destinados a transformar as situações existentes em situações que nos sejam preferenciais". Ou seja, design pode ser definido como o ato de propor criativamente uma ideia, de modo a permitir que outros, de acordo com essa ideia, façam o dito artefacto, que pode ser um produto ou um serviço, pode ser tangível ou intangível. A utilização desse artefacto por parte de todos nós transforma assim a "invenção" do designer em "inovação". A inovação está então colada à criatividade e por conseguinte ao design. Fácil!.A inovação representa, portanto, uma mudança. É um resultado. Não pode nunca ser vista como um objetivo!.A melhor pergunta a fazer-se, a quem usar o termo, é: "O que queres dizer com inovação? O que é isso exatamente?".E acreditem... o que se vai ouvir do outro lado será o equivalente ao cricrilar dos grilos numa noite estrelada..É caso para afirmar que tudo seria muito mais fácil se se inventasse uma máquina que pudesse inventar soluções para este país, de modo que quem governa não inventasse mais!.Designer e diretor do IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia