A Lisboa que somos
Antes de tomar decisões sobre o destino da caminhada, é importante ter noção do momento presente e do caminho feito até aí chegar. E se dúvidas houver no processo de escolha do percurso futuro, no mínimo, convém saber por onde não se deve caminhar.
A Lisboa do presente é o resultado de um contínuo de políticas desenvolvidas e prosseguidas ao longo de muitos anos e mandatos. Apesar dessas nem sempre terem seguido o mesmo sentido (leia-se, a mesma orientação política), acredito que a finalidade foi a melhor gestão da coisa pública.
Numa análise pouco dada a populismos ou demagogias, constata-se sem dificuldade que os maiores desafios da capital não são de agora. São disso exemplo temas como a habitação, os problemas sociais resultantes das drogas, as finanças da autarquia ou a mobilidade. No livro “Lisboa dos Presidentes”, que será lançado esta semana, está bem patente a persistência desses problemas ao longo dos tempos.
A história contemporânea demonstrou alternância de poder, mas também deixou claro que as grandes mudanças na cidade acabaram por ser maioritariamente consensuais. Se foram implementadas em tempo útil, isso é outra conversa.
Portanto, se algo se pode concluir é que ao longo dos mandatos não houve um corte radical com o passado, pelo contrário. Com algumas exceções, quem veio depois continuou o que já estava a ser implementado. Tal significa que Lisboa é a cidade que a maioria quis que fosse. E assim, a metrópole foi mudando para melhor, ladeada pelos problemas que os responsáveis foram tentando resolver.
Os lisboetas, e o país, terão eleições em breve e, por certo, a escolha não será fácil. Por um lado, o coração bate forte; por outro, a razão ajudará à clareza na análise e escolha dos melhores projetos e propostas para a cidade. Afinal, o direito a governar é algo que se conquista pelo voto e não por qualquer espécie de poder divino.
Independentemente dos partidos, os lisboetas escolherão o candidato que mais dedicação e proximidade demonstrar na execução das suas funções. Há muitas opções políticas e por isso a tarefa do cidadão eleitor não será fácil. A pluralidade faz com que uma parte do eleitorado, normalmente a mais volátil, se identifique cada vez mais com uma determinada pessoa e suas caraterísticas. Trata-se, de certo modo, de uma pessoalização da política.
É por isso que as eleições autárquicas são as eleições da proximidade entre eleitos e eleitores. Se fosse diferente não haveria concelhos do país onde as vitórias de partidos nas eleições europeias ou legislativas nada aí contam. Há, inclusivamente, concelhos onde os partidos main stream estão afastados do poder autárquico há décadas.
Terminando, em Lisboa como no país, a direção para o futuro depende em grande escala da análise cuidada do passado. Só dessa forma o desenvolvimento dos cidadãos e das cidades acontecerá com a determinação e segurança de não cometer os mesmos erros que, a dada altura, travaram a normal evolução.