A intermunicipalização da mobilidade suave

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Ao longo dos últimos anos a "mobilidade suave" tem vindo a entrar no léxico comum. Não será necessário recuar muito no tempo para recordar a primeira vez que se ouviu falar numa promessa importante: a criação de ciclovias nas cidades. Em Lisboa, por exemplo, os primeiros 3 quilómetros de ciclovia surgiram em 2001.

De lá para cá, e um pouco por todo o mundo, as cidades foram implementando mais vias para ciclistas. O Ambiente, a qualidade de vida dos cidadãos e o próprio modelo de mobilidade urbana assim o demandaram. Aliás, esta é uma parte visível do que atualmente se constitui como um programa indispensável em qualquer autarquia: uma política de mobilidade para a Cidade.

Nesse sentido, é ambicioso o compromisso da autarquia da Capital em atingir a meta dos 200 quilómetros em 2021. E com ele vem também a implementação de uma rede de bicicletas partilhadas que democratizará o uso deste veículo sustentável. Como? 93% da população de Lisboa passará a viver a menos de 300 metros de uma ciclovia.

A percentagem ganha ainda mais relevância se recuarmos 4 anos: nessa altura apenas 40% dos lisboetas viviam a essa proximidade de uma ciclovia. Se a isto forem somadas as medidas tomadas na Carris, com a renovação da frota, a criação de lugares de estacionamento para residentes, percebe-se efetivamente que temos uma cidade mais ordenada e verde.

A ciclovias são também um exemplo claro da essência do poder autárquico: aumentar a proximidade entre os cidadãos e seus representantes. E fruto dessa aproximação, os traçados de algumas ciclovias são revistos em consonância com a opinião dos utentes e residentes. Quer isso dizer que não há uma visão estanque sobre o tema e o resultado final tem sido positivo e em prol de melhor mobilidade na Cidade.

Sobre os "eternos negacionistas", há factos simples e inegáveis que importa apontar: basta percorrer as artérias da Cidade e ver gente de bicicleta por todo o lado, de todas as idades. Criticar as vias cicláveis é uma tarefa demasiado fácil e simplista. Concretizar ciclovias e permitir que as pessoas se desloquem em condições de segurança dentro das suas localidades, melhorando a qualidade de vida dos residentes, é sim uma tarefa tão complexa quanto importante.

Rejeitar a demagogia é um desígnio, principalmente quando é fruta da época (eleitoral) e associada a este tema. Há que continuar a implementar e conferir mais mobilidade sustentável e estilos de vida mais saudáveis.

A política de mobilidade é uma realidade e há um esforço claro de muitos autarcas para que essa se concretize. Sintra e Cascais, por exemplo, são casos paradigmáticos disso mesmo. Onde os edis implementaram vários quilómetros de ciclovias nos últimos 4 anos, propiciando mais mobilidade verde aos seus munícipes.

Há cerca de uma semana registou-se um incidente fatal com uma ciclista. A investigadora do Instituto Superior Técnico perdeu a vida não em ciclovia, mas imediatamente depois dessa terminar. Lamentando este terrível acidente, é impossível ficar alheio à insegurança em que alguns ciclistas se movem - onde por vezes me incluo.

A próxima fase tem de passar necessariamente pela criação de redes de ciclovias intermunicipais. Defendo uma visão integrada da mobilidade, na qual as ciclovias têm de ser incluídas. A passagem entre concelhos não pode ser um fator de paragem para quem faz da bicicleta o seu principal meio de transporte. É preciso que os autarcas pedalem nesse sentido, pois o limite das cidades termina onde começa a liberdade dos munícipes.

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